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Por Redação O Sul | 17 de março de 2019
Os crimes contra as mulheres se multiplicam em todo o Brasil. Dados do MMFDH (Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) mostram que o Ligue 180, central que recebe denúncias de violações dos direitos femininos, recebeu, nos dois primeiros meses deste ano, 17.836 notificações – 36,85% a mais em relação ao mesmo período de 2018. O Estado do Rio lidera o ranking, com 3.543 registros, seguido de São Paulo (3.263) e Minas Gerais (2.122). Na maioria dos casos, os agressores são ex-companheiros, que, em nome de um sentimento, agridem e até matam suas vítimas.
Para a presidente da OAB-Mulher, Marisa Gaudio, o crescimento dos casos de violência tem levado a sociedade a se preocupar e discutir, além de perceber o quanto é bárbaro tal tipo de crime. “Não que os outros crimes não sejam importantes. Mas o aumento dos casos de feminicídio tem, entre seus fatores, a perda do poder dos homens sobre as mulheres. A violência contra elas sempre existiu, só que agora foi tipificada. E elas convivem com toda espécie de violência, desde a psicológica até a física porque a sociedade brasileira tem um sistema patriarcal”, analisa.
Opinião semelhante tem a mestre em Psicologia Social e Personalidade Márcia Magalhães Fonseca. Segundo ela, os agressores geralmente são pessoas dominadoras que podem carecer de empatia devido a um transtorno de personalidade ou homens de personalidade violenta e hostil que cresceram vendo-se como ‘donos da mulher’. “Machismo e sensação de posse, tão presentes em nossa sociedade, estão na base dos crimes de gênero. O feminicídio mostra-se como manifestação de poder sobre a mulher, que o homem médio acredita possuir. No Brasil, matam-se mulheres 48 vezes mais do que em outros países, o que nos coloca em quinto lugar mundial nesse triste ranking”, compara.
Diante desse cenário de violência, o pesquisador da ONG Human Rights Watch, César Muñoz, aponta que o Brasil enfrenta uma epidemia de violência contra a mulher, apesar de desde 2015 a tipificação do crime de feminicídio estar prevista no Artigo 121 da Lei 13.104. “O Brasil tem uma lei excelente contra a violência doméstica, a Lei Maria da Penha. No entanto, o problema é a sua implementação. O serviços de proteção à mulher são insuficientes, e a resposta policial também está muito aquém do necessário. A polícia não investiga adequadamente milhares de casos a cada ano”.
Relatos de brutalidade, portanto, não faltam. A microempresária X., por exemplo, não consegue esquecer o dia em que diz ter sido agredida e violentada pelo ex-namorado no ano passado, durante um reencontro para uma possível reconciliação. “Ele me convidou para passear em Itaipuaçu (distrito de Maricá). Quando retornamos, por volta das 22 horas, começou meu sofrimento. Trancou as janelas do meu apartamento e passou a me socar, dar pontapés, ameaçar me violentar com uma estátua que tinha na minha casa. Acabei sendo estuprada”, relembra.
Agressões atingem toda a família
Os efeitos dos casos de agressão ou feminicídio atingem também os familiares das vítimas. Em novembro do ano passado, o técnico em Telecomunicações Walter Siqueira, 66 anos, perdeu a filha Fernanda, de 29 anos, após ela ser esfaqueada pelo ex- marido, Vanclécio Pereira.
Segundo Walter Siqueira, até hoje toda a família tenta se recuperar da perda de Fernanda. “Mas é muito difícil. Ela tinha se separado do marido por conta das crises de ciúmes dele. No dia do crime, ela até havia acabado de almoçar com a gente e foi entregar a chave da casa onde morou. Vanclécio foi lá e aplicou dois golpes de faca”, relembra emocionado.