Sexta-feira, 18 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 16 de abril de 2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, resolveu dobrar a aposta e intensificou a ameaça contra Harvard, uma das mais prestigiosas e a mais antiga universidade do país, fundada há 389 anos. “Talvez Harvard devesse perder seu status de isenção fiscal e ser taxada como uma entidade política se continuar promovendo a ‘doença’ inspirada em política, ideologia e terrorismo? Lembre-se, o status de isenção fiscal depende totalmente da ação pelo interesse público!”, escreveu o presidente republicano em seu perfil na sua plataforma Truth Social. Trump exige que a universidade desmantele seu programa de diversidade, limite protestos estudantis e se submeta a extensas auditorias federais para ter direito ao financiamento do governo.
Mais tarde, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou: “Em primeiro lugar, todas essas instituições devem seguir a legislação federal, e o presidente Trump quer ver Harvard se desculpar”. “Harvard deveria se desculpar pelo antissemitismo flagrante” em seu campus, acrescentou. Na segunda-feira, o Departamento de Educação anunciou o congelamento de US$ 2,2 bilhões (cerca de R$ 12,98 bilhões) em subsídios federais para Harvard, durante vários anos, e rescindiu contratos plurianuais por US$ 60 milhões (ou R$ 358 milhões). Segundo a pasta, seria uma represália pela “inaceitável” interrupção dos estudos pelos protestos pró-Palestina e o “intolerável assédio a judeus”.
A guerra contra Harvard é mais um capítulo da estratégia de Trump de combater as chamadas políticas DEI (diversidade, equidade e inclusão). O Executivo colocou de joelhos a Universidade de Columbia, em Nova York, que se rendeu às exigências do republicano, em troca de continuar recebendo US$ 400 milhões (ou R$ 2,3 bilhões) em fundos federais. Outras universidades, como a de Cornell e a da Pensilvânia, também sofreram bloqueios. Além das medidas financeiras, a Casa Branca ordenou a prisão e a deportação de estudantes contrários à guerra na Faixa de Gaza.
Harvard resiste ao assédio presidencial. Em mensagem enviada à comunidade acadêmica, Alan Garber, presidente da universidade, assegurou que a instituição “não abrirá mão de sua independência nem de seus direitos constitucionais”. “Nenhum governo — independentemente do partido no poder — deve ditar o que as universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir e contratar, e quais áreas de estudo e pesquisa podem seguir”, comentou. Garber garantiu que a universidade está comprometida em combater o antissemitismo e pôs fim às admissões por critérios raciais, atendendo a uma decisão da Suprema Corte.
O conselho editorial do The Crimson, uma publicação que circula no meio acadêmico de Harvard, alertou que “nossos valores não estão à venda” e denunciou uma “extorsão federal”. “Enquanto a Casa Branca tenta dizimar o ensino superior americano, esperamos que outras universidades se juntem a nós para fortalecê-lo.”
Ao jornal Correio Braziliense, Alex Keyssar, professor de história e de política social da Universidade de Harvard, disse que Trump trava uma “guerra contínua” contra universidades e escritórios de advocacia. “Ele pretende tornar todas essas instituições subservientes à sua facção política. A questão da isenção fiscal tornaria mais difícil para Harvard arrecadar fundos, pois as doações não seriam mais dedutíveis do imposto de renda. Certamente, isso acabará nos tribunais”, previu. Keyssar adverte que muitas universidades privadas e públicas estão sob ameaça, ainda que as últimas dependam bastante das legislaturas estaduais.
David Pozen, professor de direito da Universidade de Columbia, afirmou ao Correio que Trump não tem autoridade para revogar o status de isenção fiscal de Harvard. “O Código da Receita Federal dos EUA isenta instituições de ensino do imposto de renda federal há muito tempo, e somente o Congresso pode alterá-lo”, explicou. “Essa é a mais recente ameaça ilegal de um governo sem lei.” Na segunda-feira, o palestino Mohsen Mahdawi — estudante da Columbia — foi preso pela Imigração.
“Trump alega que universidades são organizações políticas, por serem centros da liberdade acadêmica. Também porque ele percebe que a maioria dos professores e dos estudantes das maiores universidades não são favoráveis ao seu governo. Trump faz essas afirmações para justificar as medidas sem precedentes que tem tomado para punir as universidades e seus pesquisadores.”
“Será que chegamos ao ponto em que as universidades de todo o país precisam ter reitores que concordem com o presidente Trump, caso contrário, correm o risco de cortes calamitosos em seu financiamento federal? E se, por sua vez, essa for uma descrição plausível de uma tomada autoritário do ensino superior, os líderes universitários chegarão à conclusão de que precisam reagir, individual e coletivamente, para ter uma chance de impedi-la?”. As informações são do jornal Correio Braziliense.