Quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de janeiro de 2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma ordem executiva que abre portas para o banimento de soldados abertamente transgênero no Exército do país. Quase 15 mil militares da ativa são trans —um número considerado relativamente baixo perto dos dois milhões de integrantes das Forças Armadas norte-americanas.
A ordem divulgada no site da Casa Branca afirma que existe uma “discriminação com base em raça e sexo” nas Forças Armadas, o que “mina a liderança, a meritocracia e a coesão das unidades, e enfraquece a letalidade e a prontidão das tropas”.
Horas antes de assinar o decreto, Trump disse a congressistas republicanos em Miami que eliminará a “ideologia transgênero” do Exército. Segundo ele, isso deve ocorrer para “garantir que vamos ter a força de combate mais letal do mundo”.
A “ideologia transgênero”, ou “ideologia de gênero”, descrita por Trump em ordem executiva assinada por ele no dia da posse, correspondem ao modo como conservadores se referem a políticas de diversidade e inclusão de minorias, praticadas pelo governo Biden em diversos departamentos durante o mandato do democrata.
Desde que assumiu, Trump prometeu eliminar todas as políticas de diversidade e inclusão do governo dos EUA. Na semana passada, seu governo ordenou o fechamento desses programas pelas agências governamentais e colocou seus funcionários em licença remunerada.
No decreto dessa segunda (27), Trump também afirma que as Forças Armadas “têm sido afligidas com uma ideologia de gênero radical para apaziguar ativistas” e que “muitas condições de saúde mental e física são incompatíveis com o serviço ativo”.
A ordem afirma que “a adoção de uma identidade de gênero inconsistente com o sexo de um indivíduo entra em conflito com o comprometimento de um soldado com um estilo de vida honrado, verdadeiro e disciplinado, inclusive em sua vida pessoal”.
“A afirmação de um homem de que é uma mulher e sua exigência de que outros honrem essa falsidade não são consistentes com a humildade e a abnegação exigidas de um militar”, afirma o texto.
Desde 2016, no governo do democrata Barack Obama, as Forças Armadas do país passaram a aceitar o recrutamento de pessoas transgênero.
Mais retrocessos
Grupos de defesa dos direitos das pessoas transgênero informaram à agência de notícias Reuters que estão se preparando para entrar com um processo judicial contra a ordem executiva de Trump sobre os soldados transgênero do Exército.
O decreto referente aos soldados transgênero seguiu uma série de ordens executivas relacionadas com o Exército que Trump anunciou ter assinado nessa segunda. Entre elas, o republicano também pediu a construção de uma versão americana do sistema antimísseis “Domo de Ferro” de Israel e determinou o retorno de militares dispensados por se recusarem a receber a vacina contra a Covid.
O presidente também assegurou que “evitará a doutrinação” dos soldados americanos “por ideologias de extrema esquerda como a teoria crítica da raça”. Os conservadores usam esse conceito de forma pejorativa para denunciar o ensino da sensibilização contra o racismo.
O nome de Pete Hegseth foi aprovado para o cargo de secretário da Defesa pelo Senado dos EUA na última sexta-feira. A aprovação ocorreu por margem mínima, a menor da história desde que votações para o chefe do Pentágono começaram a ser feitas, e teve o voto do vice-presidente J.D. Vance como desempate.
Ao assumir formalmente o cargo na segunda, o ex-apresentador da “Fox News” disse aos jornalistas que seu departamento implementará as decisões presidenciais “sem demora e sem exceção”.
Visão binária
Em 20 de janeiro, data de sua posse, Trump prometeu varrer as políticas em favor das pessoas transgênero e afirmou que os Estados Unidos apenas reconheceriam “dois sexos, masculino e feminino”, definidos ao nascer. Um decreto publicado pela Casa Branca no mesmo dia diz que “esses sexos não são modificáveis e estão ancorados em uma realidade fundamental e incontestável”.
Segundo o Instituto Williams da Universidade da Califórnia, aproximadamente 1,6 milhão de pessoas maiores de 13 anos, incluindo 300 mil adolescentes, se identificam como transgênero nos EUA.
Quase metade dos estados, em sua maioria liderados por conservadores, proíbe a participação de mulheres transgênero nas competições de esportes escolares femininos, outra proibição que Trump também quer ampliar a nível federal.
Os tratamentos médicos para que menores mudem de gênero ou o acesso de mulheres transgênero às competições esportivas femininas são temas quentes nos Estados Unidos, um país bastante polarizado.