Ícone do site Jornal O Sul

Trump ativa “modo pânico” nos mercados globais após tarifaço

Bolsas de NY enfrentaram duras perdas no acumulado da semana e tiveram pior desempenho desde 2020, na crise da pandemia. (Foto: White House)

Os mercados financeiros globals estavam bastante ansiosos antes da divulgação do plano tarifário do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. As expectativas eram altas, já que, diante da incerteza elevada, o mercado esperava alguma clareza para começar a fazer contas sobre os possíveis impactos do “tarifaco”. A estratégia não deu certo. Com o início bem mais agressivo que o esperado de uma guerra comercial mais ampla, a reação dos mercados se deu em duas etapas: na quinta-feira, continuidade do fluxo de saída dos ativos financeiros dos EUA; e, na sexta-feira, após a retaliação chinesa, modo de aversão a risco total, que não poupou nem ativos vistos como mais seguros, como o ouro.

Com a divulgação da tabela com as tarifas “recíprocas” que o governo Trump iria impor, dois pontos assustaram: a tarifa elevada sobre alguns importantes parceiros comerciais, como China, Japão e União Europeia; e os cálculos de bancos americanos sobre a tarifa média que passará a ser cobrada pelos EUA: entre 21% e 23%, a depender do método de cálculo utilizado. Em resumo: a tarifação total a ser implementada pelo governo americano superou até mesmo o cenário pessimista do mercado.

Não foi surpresa, assim, a reação ultranegativa dos investidores que, em um primeiro momento, ficou circunscrita aos ativos americanos, mas, depois, se espalhou para os ativos de risco no geral. Entre quinta e sexta-feira, importantes players do mercado começaram a calcular os potenciais impactos das tarifas sobre a economia global e o resultado foi preocupante. Já na noite de quinta-feira, o J.P. Morgan elevou a possibilidade de recessão global de 40% para 60% e, na noite de sexta-feira, revisou seu cenário econômico para os EUA.

O economista-chefe para EUA do banco, Michael Feroli, agora espera que o Produto Interno Bruto (PIB) americano sofra uma contração de 0,3% neste ano. Antes, a expectativa do J.P. Morgan era de um crescimento de 1,3%.

Não foi uma semana fácil para quem estava apostando na valorização nas bolsas de valores ao redor do globo, sobretudo nas ações americanas. Em Wall Street, o índice S&P 500 registrou o pior desempenho semanal desde a pandemia de covid-19, no início de 2020, em um demonstrativo da forte aversão a risco que dominou os mercados. Na sexta-feira (4), o índice chegou a cair mais de 6% em alguns momentos da sessão. O índice de volatilidade VIX, considerado o “termômetro do medo” dos mercados em Nova York, disparou e encerrou a semana com 45,31 pontos, também no maior nível desde a pandemia.

Nas bolsas europeias, o setor financeiro pesou duramente, com perdas relevantes das ações dos bancos da região. No fim da semana, o índice pan-europeu Stoxx 600 acumulou queda de 7,04%, na medida em que as preocupações com o crescimento da zona do euro, que já eram elevadas antes do “tarifaço” de Trump, podem se agravar ainda mais após as medidas adotadas pelo republicano. No caso brasileiro, o Ibovespa até tentou se segurar na quinta-feira (3) perto da estabilidade, mas o tombo sofrido pelas commodities e o sentimento de aversão a risco generalizado fizeram o indicador terminar a semana em baixa de 3,52%.

Nos mercados de juros, a dinâmica clássica da busca pela proteção dos Treasuries foi novamente vista e, com os preços dos títulos da dívida americana em alta, os rendimentos sofreram forte tombo e até mesmo papéis mais longos passaram a ser negociados com taxas inferiores a 4%.

Há uma expectativa crescente de que, com o tombo previsto para a atividade, o Federal Reserve (Fed) reaja e corte as taxas de juros de forma mais acelerada. Ao menos na sexta-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, manteve uma postura vigilante, que foi vista por alguns agentes como mais “hawkish”. Os contratos futuros dos Fed funds, compilados pelo CME Group, precificam o total de quatro reduções de 0,25 ponto percentual nas taxas de juros americanas ao longo deste ano e já flertam com um quinto corte, que se daria já em maio.

“Aumentar os juros em resposta a aumentos de preços motivados por tarifas seria um resultado indesejável. Por outro lado, o Fed não pode cortar as taxas apenas devido a ameaças tarifárias; ele deve olhar além dos aumentos de preços induzidos pelas tarifas para avaliar o potencial de inflação mais alta”, afirma o economista-chefe para EUA do Société Générale, Stephen Gallagher, ao projetar um corte nos juros em junho outro no segundo semestre, embora ressalte que a ameaça de uma recessão pode acelerar o processo de flexibilização monetária.

Sair da versão mobile