Quinta-feira, 24 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 23 de abril de 2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou as declarações dadas pelo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, quanto ao reconhecimento do domínio da Rússia sobre a Crimeia, o que o ucraniano rejeita, e o acusou de impedir um acordo de cessar-fogo.
Isso porque o reconhecimento do controle russo sobre a Crimeia e outras áreas da Ucrânia é um dos termos do acordo mediado pelos EUA.
“Estamos muito próximos de um acordo, mas o homem sem ‘cartas na mão’ deveria agora, finalmente, resolver isso” escreveu Trump, nessa quarta-feira (23), no Truth Social, classificando as falas de Zelensky como “prejudiciais às negociações de paz com a Rússia.”
“A declaração feita por Zelenski não fará nada além de prolongar o ‘campo de extermínio’ (na Ucrânia) e ninguém quer isso”, escreveu Trump.
Zelenski descartou o reconhecimento da Crimeia como território russo na terça-feira, antes de uma reunião planejada entre as delegações ucranianas, americanas e europeias em Londres para discutir as propostas de paz para a guerra – cancelada de última hora. “Não há nada de novo para mencionar ou discutir. A Ucrânia não reconhecerá a ocupação da Crimeia”, disse o ucraniano.
O líder ucraniano declara intenção de recuperar a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, desde o início do conflito.
Na declaração dessa quarta-feira, Trump descartou a retomada e disse que o plano dos EUA não exige o reconhecimento da Crimeia pelos ucranianos. Segundo o plano, os EUA é que devem reconhecer. “Ninguém está pedindo a Zelenski que reconheça a Crimeia como território russo, mas, se ele quer a Crimeia, por que não lutaram por ela 11 anos atrás, quando foi entregue à Rússia sem que um tiro fosse disparado?”, disse Trump.
O americano acrescentou que a situação na Ucrânia é “terrível” e que Zelenski “pode ter paz ou pode lutar por mais três anos antes de perder o país inteiro”.
As declarações do presidente não são as primeiras a culpar Zelenski pela guerra no país, iniciada pela Rússia em 2022. Em fevereiro, Trump alegou que a Ucrânia iniciou a guerra.
Plano de paz
Mais cedo, o vice-presidente J.D. Vance conclamou a Ucrânia a aceitar a proposta de paz americana que reflete de perto as exigências russas, incluindo o “congelamento” das linhas territoriais, a aceitação da anexação da Crimeia pela Rússia e a proibição de que a Ucrânia se torne parte da aliança da Otan.
Foi a primeira vez que uma autoridade dos EUA apresentou publicamente um acordo de cessar-fogo em termos tão rígidos. Os comentários pareceram destinados a aumentar a pressão sobre a Ucrânia.
Vance, durante uma viagem à Índia, disse que os EUA “se afastariam” do processo de paz se a Ucrânia e a Rússia se recusassem a aceitar os termos americanos. O alvo, no entanto, era claramente Zelenski.
“Fizemos uma proposta muito explícita aos russos e aos ucranianos, e é hora de eles dizerem sim ou de os Estados Unidos se retirarem desse processo”, disse Vance aos repórteres. “A única maneira de realmente acabar com a matança é os exércitos abaixarem suas armas, congelarem esse assunto e continuarem com a tarefa de realmente construir uma Rússia e uma Ucrânia melhores.”
A ameaça de Vance de abandonar as negociações de paz foi semelhante aos comentários feitos na semana passada pelo Secretário de Estado Marco Rubio e por Trump, que disse no Salão Oval que se os dois lados não concordarem rapidamente com um acordo, “nós simplesmente diremos: ‘Vocês são tolos, vocês são tolos, vocês são pessoas horríveis, e nós vamos simplesmente deixar passar’”.
Um plano de paz que deixa as forças russas no leste da Ucrânia seria uma notícia bem-vinda em Moscou. Há quase um ano, o presidente russo Vladimir Putin disse que aceitaria o cessar-fogo se a Ucrânia retirar as tropas das quatro regiões que Moscou anexou nos últimos três anos e desistir das aspirações de entrar na Otan.
Atualmente, a Rússia ocupa 18,7% da Ucrânia, de acordo com o DeepState, um grupo de pesquisa on-line com vínculos com o exército ucraniano.
O congelamento das linhas de frente, sugeridas pelos EUA, basicamente forçaria a Ucrânia a ceder efetivamente grandes extensões de terra à Rússia e violaria os princípios de autodeterminação e fronteiras que animaram os EUA e as nações europeias a apoiar a Ucrânia desde a invasão russa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.