Quarta-feira, 13 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 10 de novembro de 2024
Além de influenciar o mundo em questões como migração, política comercial e acordos climáticos, as decisões de Donald Trump de volta à Casa Branca também podem moldar o desenvolvimento da inteligência artificial (IA). Promessas de frear a regulação ajudaram o republicano a angariar apoios de peso no Vale do Silício, para além de Elon Musk, mas os efeitos que o novo mandato conquistado por Trump na semana passada terão nas gigantes da tecnologia que protagonizam a corrida da IA vão além da desregulamentação.
Na campanha, o republicano já havia deixado claro que afrouxaria as regras criadas pela administração de Joe Biden para impor limites éticos e de segurança à IA. Trump sinalizou que cancelaria no “dia 1” o decreto do atual presidente. Citou a ameaça à “liberdade de expressão”, um pilar do discurso da extrema-direita contra a retirada de discursos de ódio ou com informações falsas das redes sociais.
O presidente eleito também indicou que vê os limites impostos pelo governo democrata como um obstáculo que emperra a inovação e impõe “ideias radicais de esquerda” ao desenvolvimento tecnológico dos EUA. Esta é uma ideia repetida há tempos por um dos principais fiadores da campanha de Trump, Elon Musk, definido pelo próximo presidente dos EUA como um “cara incrível”.
O bilionário se tornou uma espécie de conselheiro informal do futuro presidente. Dono da xAI, que pretende concorrer com a OpenAI (criadora do ChatGPT), Musk costuma acusar modelos populares de IA e seus filtros de serem “politicamente corretos”.
Com a China
A visão combina ainda mais com Trump se considerada a disputa comercial e tecnológica com a China, um tema mais que caro ao republicano. O eleito deve partir do caminho pavimentado por Biden em relação a restrições à China nessa seara, com políticas para impedir o acesso de Pequim a componentes críticos para o desenvolvimento da IA, como semicondutores e GPUs. É um dos poucos temas em que os dois concordam.
Pedro Henrique Ramos, fundador e diretor executivo do centro de pesquisas Reglab, especializado em tecnologia e regulação, lembra que, na cruzada de Trump contra a crescente influência global da China, permitir a expansão de negócios de IA com menos regras pode ser uma forma de garantir a liderança americana nessa fronteira tecnológica.
Se Trump realmente escolher essa tática, haverá repercussões para além dos EUA, ressalta Vicente Bagnoli, professor de Direito da Concorrência da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pesquisador visitante do Instituto Max Planck de Inovação e Concorrência. Ele avalia que a tendência do segundo governo Trump é de menos intervenção nos negócios.
CEOs das Big techs se preparam para as políticas de Trump e cumprimentam o novo presidente pela vitória
Situado na Califórnia, um estado que é considerado bastião progressista nos EUA, o Vale do Silício geralmente apoia candidatos democratas. Mas, neste ano, além de Musk, outros magnatas do berço das big techs embarcaram na campanha trumpista atraídos pela promessa de menos regulação e impostos.
O megainvestidor Marc Andreessen, que lidera a firma de capital de risco mais importante do setor, e Peter Thiel, cofundador do PayPal e um dos primeiros investidores do Facebook, foram alguns dos principais nomes.
“O apoio da indústria de venture capital (investimento de risco) foi maior nessas eleições, até porque muitos desses fundos estão comprados justamente em ativos de IA e criptomoedas, com um portfólio de empresas que pode se beneficiar da menor regulação”, avalia Ramos.
Além de menos regulação e impostos, sem abandonar as incertezas em relação a seus monopólios, a indústria de tecnologia também deve sentir impactos da política econômica de Trump. O futuro presidente promete impor mais barreiras comerciais a importados, sobretudo com aumento de tarifas sobre manufaturados chineses, o que provocará alta nos custos do setor.
Em relatório de setembro, o Barclays apontou que a indústria de tecnologia estava entre aquelas “em maior risco” com a vitória de Trump, em razão da “forte dependência das cadeias de suprimentos globais”. William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, concorda que o primeiro efeito do protecionismo trumpista deve ser um aumento dos custos para a indústria de tecnologia, apesar de ela ganhar por outro lado com um provável corte de impostos.