Quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Por Dennis Munhoz | 16 de janeiro de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Muitos analistas políticos argumentam que quando foi eleito pela primeira vez 2016, nem o próprio Trump acreditava na vitória e teve que formar a equipe de governo baseada em indicações de amigos próximos, pessoas que conhecia superficialmente e que a médio e longo prazo acabaram saindo e sendo tiradas causando desgastes e constrangimentos que duram até hoje. A verdade é que a arrogância e descuido de Hillary Clinton, apoiada pelo partido democrata acabou por entregar de bandeja a presidência a Donald Trump. Agora a realidade é muito diferente. O republicano assume com maioria nas duas casas, Senado e Câmara dos Deputados, além da maioria conservadora na Suprema Corte, isso sem falar da boa margem favorável nas urnas, surpreendendo até o próprio partido.
A experiência adquirida na vitória de 2016, derrota em 2020 e nos quatros anos que esteve na Casa Branca já mostram seus efeitos na formação de seu secretariado mais coeso e sem muitas preocupações em contentar forças políticas tradicionais. O governo anterior além de entregar o bastão muito desgastado e com baixa aprovação popular, parece não ter assimilado até agora os números da derrota na eleição e sem força para fazer oposição contundente pelo menos nos dois primeiros anos da nova administração.
As nomeações de alguns secretários (equivalente a ministros no Brasil) causam preocupações dentro e fora dos Estados Unidos. Quem vai cuidar dos problemas de imigração e fronteiras será Tom Homan, conhecido como o czar das fronteiras, linha dura e temido por muitos. As primeiras entrevistas foram polêmicas, todavia promete reestabelecer a ordem e aplicação da lei, aspectos nos quais Kamala Harris falhou.
Marco Rubio, que apesar de ter ascendência cubana, será o Secretário de Estado e já declarou por diversas vezes sua divergência quanto às políticas atuais envolvendo imigrantes ilegais, ditaduras como a da China, Coréia do Norte, Venezuela e Cuba. Também é crítico de Moscou e acha que os Estados Unidos estão sendo prejudicados por falta de posicionamento mais firme. A Procuradora-Geral será Pan Bondi que já foi Procuradora Geral da Flórida, ligada à ala mais à direita do partido republicano e leal a Trump. Atuou como advogada dele no primeiro pedido de impeachment contra ele.
Tudo parece conspirar favoravelmente a Trump principalmente nos dois primeiros anos, todavia ele sabe que tem desafios internos e externos relevantes, quer seja em nomeações que dependam do Senado, onde o seu próprio partido tem ressalvas a alguns nomes, como também nas delicadas situações envolvendo tarifas de importação com outros países, invasão da Ucrânia (que prometeu resolver em dias), Israel, Faixa de Gaza, Irã, grupos terroristas, relacionamento comercial com a China e a delicada abordagem do caso de Taiwan que irrita profundamente seu maior parceiro comercial.
A maioria dos estadunidenses apoia medidas mais fortes especialmente quanto à imigração ilegal, tarifas maiores a produtos importados e recuperação do prestígio externo dos Estados Unidos, pontos que foram relevantes para a derrota de Kamala. Trump sabe que falar é uma coisa e agir é outra. A verdade é que ele impõe maior respeito aos inimigos e também àqueles que precisam negociar com a maior potência bélica e financeira do mundo. Anexar o Canadá e tomar posse da Groenlândia soam como devaneios, mas a retomada do Canal do Panamá é bem mais factível. Tributar muito a China não é um bom negócio a curto prazo porque além de pressionar a inflação, desgasta o relacionamento com o maior credor da dívida pública norte americana e segunda maior economia do mundo.
O Presidente eleito é muito bom em negócios, custos, embates e sabe quando apertar e quando afrouxar. Conhece os custos e desgaste de envolvimento direto em guerras, mas também tem ciência da necessidade dos Estados Unidos recuperarem o lugar que ocupou por décadas. O eleitor norte americano espera isto dele. Por incrível que pareça, a poderosa indústria bélica estadunidense preferia outro candidato do partido republicano e não olha com satisfação a nomeação de Elon Musk para o departamento de eficiência governamental. Outro sinal de que a racionalização da utilização do dinheiro público será priorizada. Não podemos esquecer que a dívida pública dos Estados Unidos tem crescido de maneira assustadora nos últimos 25 anos.
Trump não poderá ser reeleito porque a Constituição prevê a possibilidade de apenas uma reeleição (diferente da brasileira) e ele já foi reeleito em 2024. Tudo leva a crer que ele não se preocupará muito em manter a popularidade no final da gestão. Apertem os cintos, Trump vem aí.
Dennis Munhoz é jornalista, foi Presidente da TV Record e Superintendente da Rede TV, atualmente atua como correspondente internacional, Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa, apresentador e jornalista da Rede Mundial e Rede Pampa nos Estados Unidos.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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