Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Dad Squarisi | 1 de fevereiro de 2020
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O coronavírus criou asas e voou. Saiu da China e se espalhou mundo afora. Há suspeitas de que tenha chegado ao Brasil. Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul acenderam a luz vermelha. Fala-se em pandemia. O que é isso?
A palavra vem de família pra lá de conhecida. Panaceia, pandemônio, panorama, panteísmo, panteão são alguns de seus membros. Todos têm um denominador comum. É pan. Gregas, as três letrinhas têm senhora amplitude. Querem dizer tudo, todos.
Panaceia é remédio pra todos os males. Panorama, visão total. Pandemônio, confusão generalizada. Panteísmo, a manifestação de Deus em tudo e todos. Panteão, templo consagrado a todos os deuses. Pandemia, doença epidêmica, amplamente difundida.
Mania de grandeza
O trio — endemia, epidemia e pandemia — se refere a doença contagiosa. Mas não é qualquer doença. É doença com mania de grandeza. Atinge grande número de pessoas:
1. A endemia incide em dada população ou região: A malária é endemia na Amazônia.
2. A epidemia infecta mais de uma cidade, mais de uma região, mais de um estado: A dengue atinge praticamente todos os estados do Brasil.
3. A pandemia se espalha por continentes ou pelo mundo: Teme-se que o coronavírus seja a pandemia de 2020.
Logo, logo
O coronavírus desembarcará no Brasil? “O perigo é iminente”, diz o ministro da Saúde. Ops! Alguns dizem eminente. Enganam-se. A diferença é uma letra, mas ela muda os significados:
Eminente joga no time das excelências. Significa elevado, superior: O eminente ministro proferiu a sentença.
Iminente quer dizer prestes a acontecer: A chegada do coronavírus ao Brasil parece iminente. O diretor está na iminência de renunciar.
De sândalos e tamancos
Que coisa! Ao falar sobre a balbúrdia do Enem, o presidente disse que podia ser sabotagem. Sem saber, Sua Excelência buscou uma palavra árabe que deu muitas voltas até chegar ao português.
Sabotagem vem de sabbat. Na língua de Kalil Gibran, a dissílaba dá nome à madeira perfumada chamada sândalo. Com ela se faziam tamancos. Em francês, sabot. É aí que a história começa.
Os camponeses, sem dinheiro pra comprar sapato de couro, usavam o de madeira. Com ele, pisavam as plantas tenras dos grandes proprietários. Daí nasceu sabotar — pisar com o tamanco.
Pra frente
A palavra cresceu e apareceu. Ganhou novas acepções. Designa, sobretudo, ato de destruição intencional de um trabalho ou de uma máquina. Sabotam-se projetos. Sabotam-se casamentos. Sabotam-se candidaturas. Sabotam-se acordos. Sabotam-se instalações industriais. Sabotou-se o Enem? Valha-nos, Deus!
Na moral
Bolsonaro voltou da Índia com força total. Ao desembarcar, disse que exoneraria dois auxiliares da Casa Civil. A razão: uso imoral de avião da FAB. Em vez de pegar um voo comercial, preferiram um particular, pago pelo contribuinte. Perderam o cargo e deixaram uma questão. Qual a diferença entre imoral e amoral?
Amoral = indiferente à moral: Atos de crianças e loucos são considerados amorais.
Imoral = contrário à moral: Algumas religiões consideram imoral a relação sexual antes do casamento.
Ele ou ela?
O moral = ânimo, disposição: Inscritos no Sisu ficaram com o moral baixo com a decisão da Justiça de impedir a publicação dos resultados.
A moral = conjunto de preceitos de conduta: moral duvidosa, a moral da fábula, pessoa sem moral.
Leitor pergunta
Em entrevista à GloboNews, o governador de Minas, Romeu Zema, disse que “ninguém preveu o volume das chuvas”. Bobeou, não? — Mirta Chaves, Brasília.
Uiiiiiiiiiiiiiiiii! Doeu. Prever é filhote do verbo ver. Pai e filho se conjugam do mesmo jeitinho: vi (previ), viu (previu), vimos (previmos), viram (previram).
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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