Viajar para a Argentina para esquiar nas montanhas de Bariloche – ou “Brasiloche”, apelido que a cidade da Patagônia ganhou de tanto turista brasileiro que recebe – ou para aproveitar da carne e do vinho em Buenos Aires deixou de ser um programa minimamente razoável ao bolso de quem ganha em real.
Desde que o governo de Javier Milei assumiu, em dezembro de 2023, tudo aumentou, e não só para os argentinos, que de tudo reclamam. Brasileiro também anda reclamando ao caminhar pelas ruas da capital argentina, até porque o que não aumentou tanto foi o valor do real frente ao peso argentino. Em 11 de dezembro, um dia depois de Milei assumir o posto de presidente, o real valia 190 pesos e, agora, vale 220 pesos (valorização de 16%, contra uma inflação acumulada em sete meses de 87%).
Os comerciantes da região da avenida Cabildo, importante artéria de Buenos Aires, se queixam da falta de brasileiros comprando em suas lojas de roupas e calçados. Franco Moretti, dono do gim Moretti e do bar que leva o nome do seu produto, no turístico bairro chinês da capital, também estava sentindo falta dos brasileiros nesta temporada.
“Está tudo o dobro do preço em relação ao Brasil”, comentou o fazendeiro de Belo Horizonte Daniel, em visita a Buenos Aires para assistir a um jogo de futebol de seu time de coração, o Cruzeiro, pela Copa Sul-Americana. “Venho sempre a Buenos Aires e os preços, principalmente, de produtos essenciais, como comida, estão mais altos”, diz o mineiro em meio aos corredores de um entreposto de alimentos em Belgrano, bairro nobre da cidade.
Ele sentiu que seus colegas torcedores têm evitado ir aos jogos da equipe mineira na Argentina por causa da alta de preços. Driblar a inflação acumulada nos últimos 12 meses, até julho, de 263,4% não é missão fácil nem para os craques — mais difícil ainda é escapar daquela dorzinha de cabeça chata quando chega a fatura do cartão de crédito.
Para quem ainda assim está disposto, a verdade é que está mais caro degustar a saborosa carne nos restaurantes de Buenos Aires — é preciso em torno de R$ 300 por pessoa para comer num endereço estrelado ou da moda de Palermo. Comprar jaquetas, botas e sapatos de couro no centro da cidade ou nos bairros mais descolados e fashions também está complicado.
O único bastião do consumo que o turista brasileiro ainda pode acessar sem medo da conta é o vinho. Uma garrafa da premiada vinícola El Enemigo sai por cerca de R$ 100 — no Brasil, a mesma custa aproximadamente R$ 250. Isso quando se trata de vinhos mais premium. Se a ideia é bebericar um bom vinho, acompanhado de um afamado queijo de Tandil (R$ 48, por 500g), no quarto do hotel, ainda se consegue pagando R$ 35 a garrafa.
Em contraponto a Daniel, a fisioterapeuta Bruna Cardoso Manna Murata, que foi de férias para Buenos Aires pela primeira vez em junho deste ano, achou a Argentina mais barata que São Paulo, onde mora.
“Apesar de saber que no período que eu fui a relação de valor entre o real e o peso não estava tão atrativa, achei uma viagem com um bom custo benefício”, avalia a profissional de saúde que vive no bairro de Pinheiros, na capital paulista.
“O que mais me chamou atenção em relação a ser mais barato que o Brasil, considerando que moro em São Paulo [uma cidade cara para o brasileiro], foi a alimentação”, disse ela. “Comi muito bem. Inclusive em restaurante com estrela Michelin, algo que, no Brasil, não seria viável.”
Após essa primeira experiência em terras portenhas, Bruna disse que “voltaria para lá mil vezes”. Ela compara a viagem com a que fez, no ano passado, para o Chile, país que achou mais caro. As informações são do jornal Valor Econômico.