Sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 25 de agosto de 2022
Segundo a empresa que opera a usina, os últimos dois reatores em operação foram desconectados da rede ucraniana pela primeira vez, gerando temores de superaquecimento
Foto: ReproduçãoA usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, ocupada por tropas russas e alvo de intensos bombardeios recentemente, foi desconectada da rede elétrica nacional nesta quinta-feira (25), pela primeira fez na história, disse a empresa Energoatom, operadora da usina.
O corte levou a quedas de energia em larga escala em quase todas as cidades ocupadas pela Rússia no sul da Ucrânia. A falta de energia na usina nuclear, a maior da Europa, é um risco para o sistema de resfriamento dos reatores.
“Os dois reatores em operação da usina foram desconectados da rede. Consequentemente, as ações do invasor levaram à desconexão total [da usina de Zaporizhzhia] da rede elétrica, pela primeira vez em sua história”, disse Energoatom no Telegram.
Segundo o informe, incêndios na área da central térmica que fornece eletricidade aos reatores nucleares levaram ao corte da última linha elétrica que ligava à rede ucraniana. “As outras três linhas foram danificadas anteriormente em ataques terroristas” pela Rússia, acrescentou Energoatom.
A usina nuclear de Zaporizhzhia está sob ocupação russa desde o início de março e os recentes bombardeios na área geram temores com a segurança, já que um desastre nuclear em Zaporizhzhia seria dez vezes maior que o causado por Chernobyl em 1986, sugerem especialistas.
O temor agora se dá porque a usina precisa de eletricidade para operar os sistemas de refrigeração dos reatores e das barras de combustível. Se todas as conexões elétricas forem desligadas, o sistema passa a depender de geradores a diesel para energia – que são menos confiáveis -, e se estes quebrarem, os engenheiros têm apenas 90 minutos para evitar o superaquecimento perigoso dos reatores.
“Se perdermos a última da linha de energia da usina, estaremos à mercê total dos geradores de energia de emergência”, disse Najmedin Meshkati, professor de engenharia civil e ambiental da Universidade do Sul da Califórnia, antes de a Ucrânia comunicar a desconexão completa da usina.
Na quarta-feira (24), Petro Kotin, chefe da Energoatom disse ao jornal britânico The Guardian que a Rússia já havia elaborado um plano detalhado para desconectar a usina da rede ucraniana e conectar à rede de Moscou. Segundo ele, o plano já havia sido apresentado aos trabalhadores da usina que mostraram para a Energoatom.
Nas últimas semanas, Moscou e Kiev acusaram-se mutuamente de bombardear a usina no sul do país, que possui seis reatores com capacidade total de 6.000 megawatts. A Ucrânia também acusa a Rússia de armazenar armas pesadas na usina e usá-la como escudo para bombardear posições ucranianas.
Moscou nega ter implantado armas na usina e garante que só instalou unidades para garantir a segurança do local. A Rússia, por sua vez, acusa as forças ucranianas de terem bombardeado o complexo com drones. A ONU pediu a desmilitarização da usina para garantir a segurança e permitir uma inspeção do local, mas Moscou descarta a proposta como absurda.
“Qualquer pessoa que entenda as questões de segurança nuclear está tremendo nos últimos seis meses”, disse Mycle Schneider, consultor independente de políticas e coordenador do World Nuclear Industry Status Report.