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Alexandre Teixeira de Castilhos Rodrigues “Ucrânia: Quando os direitos humanos tombam sob o som das bombas”

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A guerra entre Rússia e Ucrânia segue ceifando vidas e espalhando escombros na alma da humanidade

Foto: Reprodução de vídeo
(Foto: Reprodução de vídeo)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

No alvorecer do século XXI, a guerra arranca vidas, destrói cidades e silencia consciências. Onde estão os defensores da paz? O silêncio do mundo ecoa mais alto do que os tiros — é o espelho trincado de uma humanidade adormecida.

A guerra entre Rússia e Ucrânia segue ceifando vidas e espalhando escombros na alma da humanidade. O mundo, absorto em seus interesses, parece calar-se diante de flagrantes e reiteradas violações dos direitos humanos.

Desde fevereiro de 2022, quando a invasão russa ganhou proporções totais, a Ucrânia sangra. Mas o prelúdio desse sofrimento remonta a 2014, com a anexação da Crimeia — início do que se tornaria uma tragédia prolongada.

Estimativas recentes apontam que mais de 10 mil civis ucranianos perderam a vida, incluindo mais de 600 crianças. Cerca de 30 mil ficaram feridos. No front militar, o número é ainda mais assustador: 43 mil soldados ucranianos mortos, 370 mil feridos. Do lado russo, ultrapassam 120 mil os militares que tombaram. O que sobra é um campo de ruínas e corações destroçados.

Cidades como Mariupol, Marinka, Bakhmut, Kharkiv e Chernihiv foram devastadas. A capital Kiev segue sendo alvo de bombardeios, com danos severos à infraestrutura: hospitais, escolas, redes de energia e transporte viraram cinzas em nome de uma vaidade geopolítica. A guerra, com suas granadas e trincheiras, ressurge em pleno século XXI, como se os horrores da Segunda Guerra não tivessem sido lição suficiente.

Lembro-me de um jantar com oficiais da reserva — entre eles, um general — quando se comentava, atônitos, que em plena era dos drones e da guerra cibernética, jovens ainda empunhavam fuzis no corpo a corpo. E não apenas jovens homens: mulheres ucranianas, corajosas, foram à linha de frente, entregando suas vidas em nome de sua pátria.

A aproximação da Ucrânia com a OTAN e a União Europeia acendeu o pavio da discórdia com Moscou, que interpretou esse movimento como ameaça à sua esfera de influência. Mas nada, absolutamente nada, justifica a barbárie.

O caos do mundo reflete o caos do ser humano. Quando o Estado — e aqui me refiro não apenas aos beligerantes, mas à comunidade internacional — age ou se omite, colabora para a perpetuação da injustiça. Os direitos humanos não são apenas cláusulas de tratados ou palavras em um papel bonito. São alicerces de civilização. Vida, liberdade, dignidade — são estas as colunas que a guerra tenta demolir.

Após a Segunda Guerra Mundial, a ONU nasceu para evitar novos conflitos, promover a paz e proteger os direitos fundamentais. Em 1948, a Declaração Universal de Direitos Humanos trouxe à letra o que já deveria ser instinto humano: o reconhecimento de que todos, sem distinção, possuem direitos invioláveis. Mas os direitos humanos não podem ser apenas memória de tratados: devem ser farol em tempos de escuridão.

Contudo, esse espírito está adormecido. A resposta internacional tem sido morna. Ajuda financeira isolada não substitui ação diplomática firme ou envio de forças de paz. Onde está a intervenção da ONU para proteger vidas? Onde estão os artistas, como George Harrison em 1971, que ergueu vozes contra a guerra de Bangladesh com Bob Dylan, Clapton, Ringo Starr e outros? Onde estão os clamores pelo fim do sofrimento? Até quando o silêncio será o idioma oficial da omissão?

Os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, mas esse princípio tem sido abandonado nas trincheiras da indiferença. Deixamos de agir como irmãos. Ignoramos o ensinamento mais simples e profundo do Mestre Jesus: “Amarás teu próximo como a ti mesmo”.

Como nos ensinou o professor Claudio Jesús Santagati: o maior desafio é “ser plenamente humano” compreendendo a dor alheia como nossa. Isso exige autoconhecimento, empatia, respeito e, principalmente, ação. A fraternidade é a resposta que falta – é a face humana do amor de Deus.

Não a fraternidade de discursos prontos, mas a que se traduz em cuidado, acolhimento, presença. Talvez seja utopia para alguns. Mas se o mundo perdeu o rumo, que pelo
menos não percamos a bússola da humanidade.

Novo Hamburgo, RS, 21 abr. 2025.

(Foto: Divulgação)

*Alexandre Teixeira G. de Castilhos Rodrigues, advogado, escritor, oficial
R2 e doutorando em direitos humanos, UNLZ, Argentina.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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