O empresário José Yunes, um dos melhores amigos de Michel Temer, tem sido aconselhado a fazer delação premiada. Ele é investigado em processos que envolvem o suposto pagamento de propina ao grupo liderado pelo presidente no então PMDB.
Yunes afastou a ideia. Ele disse que não teria nada para contar. Sustentou que jamais participou de tratativas para financiamento de campanha do grupo de Temer e nunca soube de pagamento de propina ao presidente.
A situação de Temer é considerada delicada: no próximo ano, ele deve perder o foro privilegiado e poderá ser alcançado pelas investigações e por medidas cautelares. Seu advogado, Antonio Claudio Mariz de Oliveira, diz acreditar que tudo correrá dentro da “legalidade”.
Entenda o caso
Um laudo da PF (Polícia Federal) indicou que o advogado José Yunes, amigo do presidente Michel Temer, recebeu R$ 1 milhão da Odebrecht em duas parcelas de R$ 500 mil. O segundo repasse, de acordo com análise dos investigadores, só teria ocorrido mediante pressões sobre a empreiteira e até a ameaça de um escândalo em Brasília.
O laudo foi elaborado a partir de novos arquivos entregues pela Odebrecht à Lava-Jato, com registros dos sistemas Drousys e My Web Day, usados para gerir o pagamento de propinas a políticos.
A perícia da PF sobre essas mídias foi concluída em abril deste ano e integra o inquérito que apura se Temer e aliados negociaram, em reunião no Palácio do Jaburu, R$ 10 milhões em doações ilícitas de campanha para integrantes de seu partido, o MDB, parte delas usando o amigo e ex-assessor.
Os peritos recuperaram planilhas com a programação do suposto pagamento a Yunes, bem como dados da liquidação desse repasse. Além disso, foi encontrado um email no qual integrantes do esquema de corrupção da Odebrecht relatam pressão para que recursos fossem pagos.
Para os investigadores, os novos dados do inquérito corroboram a versão do MPF (Ministério Público Federal), que denunciou Yunes como arrecadador contumaz de propinas para Temer. Em depoimento prestado à PF, o policial militar Abel de Queiroz – que trabalhava como encarregado da Transnacional, firma de transporte de valores contratada pela Odebrecht – disse ter ido duas vezes ao escritório do advogado para fazer entregas de dinheiro.
Uma das planilhas esquadrinhadas no laudo descreve a programação inicial de pagar R$ 1 milhão, em 26 de agosto de 2014, por meio de compromisso firmado com “Angorá” – codinome associado aos ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e de Minas e Energia, Moreira Franco. A senha para a entrega dos recursos seria “Pássaro”.
Num outro registro, consta que esse pagamento deveria ser feito “na rua Capitão Francisco, 90, Jardim Europa”, onde funciona o escritório de Yunes. “Procurar o sr José Yunes ou a sra. Cida”, diz o texto localizado pela PF.
Uma terceira tabela, intitulada “extrato bancário” e que registra a movimentação de recursos geridos por um dos doleiros da Odebrecht, indica que, em vez de R$ 1 milhão, foram repassados inicialmente R$ 500 mil. Essa movimentação financeira, datada de 1º de setembro de 2014, tem o mesmo código de requisição que consta da programação inicial de pagamento no escritório de Yunes.
O email encontrado no material apresentado pela Odebrecht foi escrito em 30 de setembro de 2014, ou seja, quando, no entendimento da PF, os primeiros R$ 500 mil já teriam sido pagos. Foi enviado por Waterloo – codinome de Fernando Migliaccio, executivo do departamento de propinas da empreiteira – a Vinho, o doleiro Álvaro Novis, que trabalhava para a empreiteira.