Um bispo argentino que trabalha no departamento financeiro do Vaticano está sob investigação preliminar por supostos abusos sexuais, afirmou o Vaticano nesta sexta-feira (4).
Gustavo Zanchetta, de 54 anos, foi bispo em Oran, no noroeste da Argentina, e trabalha no departamento conhecido como Apsa, responsável pela contabilidade, pelos recursos humanos e pela administração de imóveis do Vaticano na Itália.
Em nota divulgada após reportagens na imprensa argentina, o porta-voz do Vaticano, Alessandro Gisotti, disse que não há acusações de abusos ocorridos durante o período em que o bispo está na Apsa, desde dezembro de 2017.
O cargo de Zanchetta na Apsa teria sido criado especialmente para ele.
“As acusações de abuso sexual vieram à tona no outono passado”, afirmou Gisotti, acrescentando que quando Zanchetta deixou o bispado de Oran ele tinha relações tensas com padres da diocese, que o acusavam de ser autoritário.
A nota disse ainda que o bispo se “absteria do trabalho” na Apsa durante uma investigação preliminar.
El Tribuno, jornal da província argentina de Salta, publicou em 28 de dezembro que três padres acusaram Zanchetta de abuso sexual para o embaixador do Vaticano em Buenos Aires. O bispo foi acusado ainda de abuso de poder e de má utilização de fundos, segundo o jornal.
De acordo com os padres, os abusos aconteceram dentro do seminário São João 23, fundado por Zanchetta em Oran em 2016.
O Vaticano afirmou que o atual bispo de Oran havia coletado testemunhos que seriam enviados à Santa Sé e que, se as alegações forem consideradas críveis, Zanchetta deve ser encaminhado a um tribunal especial.
Entre 21 e 24 de fevereiro haverá no Vaticano uma conferência de 110 bispos e dezenas de especiais e líderes de ordens religiosas para discutir a questão de abusos cometidos dentro da igreja.
Perda de credibilidade
Em uma longa e incomum carta enviada aos bispos norte-americanos, o papa Francisco admite a perda de credibilidade da Igreja por causa dos recentes escândalos de abuso sexual e pede ao clero americano que mostre unidade para enfrentar a crise.
A carta foi enviada aos bispos dos EUA que estão reunidos para um seminário em Chicago, e divulgada na quinta (3).
Nela, Francisco afirma que a resposta ao escândalo mostra a necessidade urgente de uma nova abordagem de gestão e mentalidade dentro da Igreja.
“O povo fiel de Deus e a missão da Igreja continuam sofrendo muito como resultado de abusos de poder, consciência e abuso sexual e da maneira como foram administrados”, escreveu o Papa, acrescentando que os bispos “se concentraram mais em apontar dedos do que na busca por caminhos de reconciliação”.
“A perda de credibilidade requer uma abordagem específica, já que não pode ser recuperada através da emissão de decretos duros ou simplesmente criando novos comitês ou melhorando os fluxogramas, como se estivéssemos encarregados de um departamento de recursos humanos”, escreveu Francisco.
As tentativas de restaurar a credibilidade da instituição devem se basear na reconstrução da confiança, escreveu, em vez de “se preocupar com marketing ou criar estratégias para recuperar o prestígio perdido”.
O pontífice também alertou contra a redução da missão da Igreja à administração de um “negócio de evangelização”.