O economista Fabio Giambiagi, profundo conhecedor de finanças públicas e autor do excelente livro “Brasil: Raízes do Atraso”, tem uma frase provocativa para descrever sucintamente nosso País: “Somos um projeto à espera de um gestor”. Tomada por verdadeira, a afirmação de Giambiagi nos traz duas questões fundamentais para o debate nacional. De um lado, anuncia que somos um projeto, e, de outro, que estamos à espera de alguém que conduza esse mesmo projeto com efetividade. Se temos um projeto ou não, é tema para outra reflexão. Hoje, quero me fixar nas competências necessárias para que esse líder, idealizado para um Brasil possível, possa conduzir os destinos do País com correção moral, inteligência emocional e assertividade técnica. A democracia vem apresentando algumas deficiências, em especial na necessária contenção de lideranças antidemocráticas que ascendem ao poder. Também os filtros de retenção de ineptos precisam ser reforçados, até porque a gestão dos países, assim como de qualquer empreendimento, tem se tornado uma missão cada vez mais complexa e desafiadora.
Gerir uma empresa não é uma tarefa qualquer. Administrar uma megaempresa é ainda mais difícil. Um País, então, constitui-se em encargo para poucos. Contudo, até certo ponto, negligenciamos essa questão e tendemos a crer que ao ser “ungido pelas urnas”, o candidato automaticamente estará preparado para a sua missão. Mas não é assim! O Brasil tem sido um exemplo de que desqualificados podem chegar ao poder. O “processo seletivo” desses gestores públicos tem se mostrado incapaz de responder à demanda ultraqualificada que o novo momento requer. O sistema democrático, a despeito de todas as suas virtudes, apresenta um problema estrutural, cuja gravidade a atual sociedade cibernética tratou de acentuar com muita ênfase. Se na era analógica, o nível de dificuldades demandava qualidades quase sobre-humanas dos gestores, hoje, o repertório de competências requerido absorveu dimensões antes inexistentes, a maioria delas atrelada fortemente à dimensão social e comportamental. Os partidos políticos, entretanto, estão sendo incapazes de compreender e absorver essas mudanças em seus processos internos de escolhas.
Diferentemente das empresas que contratam CEOs no mercado, os países democráticos dependem, até certo ponto, da sorte para que o destino lhes brinde com um estadista de grande visão estratégica, sabedoria, profundo conhecimento da realidade nacional e excelente trânsito internacional. Há um flagrante descompasso entre o aumento da complexidade do macroambiente e o engessamento das práticas políticas, congeladas no tempo e carentes de uma reforma que consiga capturar, dentro dos seus processos eleitorais, candidatos a gestores públicos detentores de qualificação adequada para os crescentes problemas que nos assolam.
Nosso País precisa ser pensado estrategicamente. Quem está planejando o Brasil para os próximos 10, 20 ou 30 anos? Quem está trazendo à mesa as questões mais emergentes do novo milênio, e que serão decisivas para o nosso futuro? Essa é uma função esperada de quem ocupa o topo executivo. Para tanto, teria esse gestor que deter capital intelectivo adequado, fortes atributos de liderança, ser capaz de articular contrários, formatar um discurso catalisador e coerente, capturando, pela força do argumento, apoio para os projetos essenciais ao País. Falta-nos, porém, essa mensagem articulada, e pensada a partir de uma visão de Brasil grande, mas com sólidos fundamentos baseados na racionalidade e no potencial existente. Se uma organização, seja ela grande ou pequena, precisa muito de uma gestão competente, por que um País deixaria de almejar ter em seu comando alguém com capacidade indiscutivelmente comprovada? Enquanto essa expectativa não for compartilhada como um anseio de muitos, continuaremos à mercê de lideranças incapazes de responder aos gigantescos desafios deste novo milênio, na desoladora perspectiva de um País à espera de um gestor.