O ex-governador de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB), afirmou em delação premiada que o deputado estadual Oscar Bezerra (PSB) o procurou e cobrou propina de R$ 15 milhões para não envolver o nome dele na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das Obras da Copa, na ALMT (Assembleia Legislativa de Mato Grosso). Silval fez um acordo de delação premiada, que já foi homologado pelo ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal).
A CPI da Copa era presidida por Oscar Bezerra e apurava irregularidades na condução das obras da Copa do Mundo em Cuiabá e Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá. O relatório final, que foi aprovado em abril deste ano, apontou um desvio de R$ 541 milhões com a realização das obras de infraestrutura e mobilidade urbana na Grande Cuiabá.
O deputado Oscar Bezerra não quis se pronunciar sobre a acusação feita por Silval Barbosa. A Assembleia Legislativa também não se manifestou sobre a delação do ex-governador.
Na delação, Silval afirmou que o ex-prefeito de Nobres, a 151 km de Cuiabá, Devair Valim, o procurou em 2015, e disse que estava representando o deputado Oscar Bezerra. Valim teria dito que o parlamentar queria R$ 15 milhões para que a CPI da Copa não andasse. Após alguns encontros, o valor da propina teria caído para R$ 10 milhões. A reportagem não conseguiu contato com o ex-prefeito.
De acordo com o ex-governador, um encontro foi marcado entre ele e o deputado, no pátio de um supermercado, onde Bezerra teria insistido no recebimento da propina, chegando a passar para Silval os dados de uma conta que pertencia a uma factoring, para depósito. Silval disse que pagou R$ 200 mil, mas acabou sendo preso dias depois.
Ainda de acordo com o Silval, após a prisão dele, um outro deputado da CPI chegou a procurar o filho dele para “resolver” o restante do pagamento.
CPI da Copa
A CPI das Obras da Copa teve início em 2015 e demorou mais de dois anos para ser concluída. Para essa investigação, foram gastos R$ 3 milhões. O relatório concluiu que R$ 541 milhões foram desviados e pediu pelo indiciamento de 96 agentes públicos, dirigentes de 16 empresas de 7 consórcios, de dois ex-secretários extraordinários da Secopa (Copa do Mundo), do ex-governador Silval Barbosa e do ex-presidente da ALMT, ex-deputado estadual José Riva. O documento foi enviado ao MPE (Ministério Público Estadual).
Filmagem
O prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PMDB), aparece em um vídeo recebendo dinheiro vivo na época em que foi deputado estadual no Mato Grosso. Ele exerceu o cargo de 2010 a 2014.
O material integra a delação premiada do ex-governador do Estado Silval Barbosa (PMDB), descrita como “monstruosa” pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux, que homologou o acordo neste mês.
O conteúdo do acordo está mantido sob sigilo mesmo após sua validação pelo STF.
Envolvidos nas investigações relataram que a entrega para Pinheiro registrada no vídeo teria acontecido entre os anos de 2012 e 2013 e que teria sido feita por Sílvio César Corrêa Araújo, ex-chefe de gabinete de Barbosa e seu braço direito no governo.
Araújo, que assim como Barbosa chegou a ser preso, também fez acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. Hoje ele cumpre prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.
O pagamento, segundo Barbosa, seria uma espécie de “mensalinho” para garantir apoio dos deputados estaduais ao seu governo.
O peemedebista afirmou que o esquema já estava em vigor na gestão do hoje ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), que o antecedeu no governo do Mato Grosso.
Além da gravação de Pinheiro, o peemedebista entregou pelo menos mais nove vídeos de deputados e ex-deputados estaduais recebendo propina.
O ex-presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso José Geraldo Riva também afirmou, no acordo de delação que negocia com a Procuradoria Geral da República, que o prefeito de Cuiabá se beneficiou do mensalinho.
20 anos de propina
Riva detalhou ainda um esquema de compra de deputados estaduais que dominou a Assembleia Legislativa do Mato Grosso por 20 anos. Envolvidos nas tratativas de sua colaboração relataram à reportagem que ele cita nomes de parlamentares e valores de pessoas que desfrutaram deste esquema de 1995 a 2015.
Entre os beneficiários da mesada do governo de Silval Barbosa, segundo Riva, está o deputado federal Ezequiel Fonseca (PP). Ele atuou em campanhas de Barbosa e integrou seu grupo de apoio.
Em depoimento à Justiça do Mato Grosso em abril deste ano, Riva afirmou que também recebia um mensalinho do governo do Estado. O ex-deputado afirmou que inicialmente o valor era de R$ 15 mil, mas foi reajustado gradativamente e, por fim, saltou para cerca de R$ 25 mil. Riva foi deputado estadual por cinco mandados consecutivos, de 1990 a 2015. (AG/Folhapress)