Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 4 de maio de 2018
Um dos coordenadores do movimento da ocupação do prédio Wilton Paes de Almeida, que pegou fogo e desabou na terça-feira (1º), no Centro de São Paulo, Ricardo Luciano Lima, o “Careca”, chorou ao prestar depoimento à polícia na manhã de sexta-feira (4). Careca disse à polícia que os pagamentos feitos pelos moradores da ocupação eram usados, por exemplo, na compra de bombas de água para abastecer o prédio. Ele disse que tinha saído do movimento e retornou no dia da tragédia. “Vi na televisão, na minha casa, e fui ajudar as pessoas”, disse, chorando.
Ele afirmou que não teve mais contato com Ananias dos Santos, líder da ocupação, e que não sabe se ele virá prestar depoimento. Durante entrevista na delegacia, ele defendeu Ananias. Moradores da ocupação disseram que Ananias saiu do local da tragédia de carro e não foi mais visto. “Ele trabalha e a esposa dele também trabalha. Ao longo dos anos trabalhados, deu tempo dele ganhar dinheiro para ter patrimônio”, disse.
Careca integra a coordenação do MLSM (Movimento de Luta Social por Moradia). Em entrevista, ele explicou como atua para descobrir prédios a serem ocupados. “O que eu faço é abrir prédio”, disse Ricardo Luciano Lima. “Vou lá, estudo, olho, vejo que o prédio está vazio, se tem condições de eu abrir ele e pôr essas famílias para dentro.”
O delegado seccional do Centro de São Paulo, Marco Antônio de Paula Santos, disse que o 3º Distrito Policial instaurou inquérito para a Polícia Civil investigar as causas e eventuais responsabilidades pelo incêndio que resultou no desabamento do prédio.
A polícia já ouviu o depoimento de 16 pessoas no inquérito aberto pelos crimes de incêndio e desabamento e agora espera que outros representantes do movimento se apresentarem espontaneamente. Segundo a polícia, um curto-circuito no quinto andar provocou o incêndio.
O delegado disse que até o momento não recebeu nenhuma informação sobre a possibilidade de ligação dos chefes da ocupação com o crime organizado. Por determinação do Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Mágino Alves, o Departamento Estadual de Investigações Criminais da Polícia Civil faz uma apuração paralela sobre pessoas que exploram os moradores das ocupações.
Um ex-integrante da ocupação diz que responsáveis pelo movimento ficavam com dinheiro cobrado das famílias que viviam no prédio que desabou no Centro de São Paulo. O dinheiro era destinado, originalmente, a oferecer melhorias nas condições dos prédios ocupados, como era prometido aos moradores.
Um rapaz, que pediu para não ser identificado, disse que trabalhou três anos para o movimento. Ele era responsável por descobrir e arrombar prédios vazios e que, para isso, pagava propina para porteiros e seguranças de rua para eles dizerem onde tem prédio desocupado. “Quais prédios estão desocupados e para que eles não chamem a polícia na hora da ocupação. Que o principal é a polícia não chegar em 24 horas. Tinha segurança de rua que aceitava R$ 1 mil a R$ 2 mil para poder não chamar a polícia. A gente chegou a pagar R$ 5 mil para um porteiro.”
Ele acusa os líderes do movimento Ananias e Hamilton de ficarem com o dinheiro cobrado das famílias. “Porque é passado para quem é coordenador que esse dinheiro vai voltar para o prédio, mas eu mesmo presenciei que não volta. Vai para o bolso deles. Enquanto estava fazendo parte do movimento, esse prédio que acabou de cair ele estava no meio de um dos prédios do movimento e foi onde eu saí. Eu morei nesse prédio até cinco meses atrás. É um prédio que ele não tinha estrutura nem para aguentar moradia, quanto mais um incêndio.”