Quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 17 de fevereiro de 2025
O segmento tem resistido aos acenos feitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Foto: Agência BrasilUm levantamento da gestora de recursos Mar Asset Management, divulgado no mês passado, projeta que os evangélicos representarão 35,8% da população em outubro de 2026.
O cálculo foi feito a partir de dados da Receita Federal e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O segmento é um dos principais pilares do bolsonarismo e tem resistido aos acenos feitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nas últimas eleições, quando correspondiam a 32,1% da população, a intenção de voto às vésperas do segundo turno, medida pelo Datafolha, apontou que a maioria dos evangélicos votou em Jair Bolsonaro. À época, 69% do segmento preteria Lula. Esse cenário ocorre desde 2018: Fernando Haddad (PT) tinha, no mesmo período, a intenção de voto de 31% dos evangélicos.
Conforme o cientista político Vinicius do Valle, diretor do Observatório dos Evangélicos, o distanciamento começou no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT). Um marco teria sido a divulgação do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3), que previa apoio a um projeto de lei para descriminalização do aborto. A proposta gerou forte reação entre lideranças religiosas, levando o governo a recuar.
O desgaste se intensificou com o deputado Marco Feliciano (PL-SP), que é pastor, na presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Ele passou a pautar projetos como a permissão para que psicólogos oferecessem “cura gay”, sob protestos de ministros do governo Dilma e elogios das lideranças evangélicas. Enquanto essa agenda avançava, a reprovação de Dilma também crescia. Entre crises dentro e fora da igreja, o impeachment de Dilma foi aprovado com 92% de apoio na bancada evangélica.
Pesquisa Datafolha divulgada na última sexta-feira mostra que 48% dos evangélicos consideram que Lula tem feito um trabalho ruim ou péssimo. Na população em geral, esse percentual é de 41%. Nesse segmento religioso, 21% avaliam o governo como ótimo ou bom. Eram 26% em dezembro. Para 28%, a gestão petista é regular.
Desde o início de seu terceiro mandato, Lula enfrenta desconfiança do segmento, alimentada por fake news durante a campanha eleitoral de 2022, como a sobre supostos planos de fechamento de igrejas. Depois de eleito, Lula não conseguiu construir pontes com o segmento.
Os acenos feitos nestes dois primeiros anos passaram pela ampliação da imunidade tributária das igrejas. Apesar de prevista na Constituição, a Reforma Tributária expandiu os benefícios às associações ligadas aos templos. Especialistas consideram que essas iniciativas foram insuficientes para reverter o distanciamento.
Enquanto o governo encontra dificuldades para dialogar, pastores influentes que apoiaram Bolsonaro seguem marcando posição. O bispo Robson Rodovalho, da Sara Nossa Terra, avalia que Lula governa prioritariamente para a esquerda e que o engajamento da primeira-dama, Janja da Silva, em pautas progressistas também pesou na rejeição evangélica.
Já o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, destaca três episódios que, segundo ele, afastaram Lula do segmento: a revogação de portarias que dificultavam o aborto e duas declarações do presidente, uma contra o discurso de “costumes, família e patriotismo” e outra em que afirmou se orgulhar de ser chamado de comunista. As informações são do portal de notícias O Globo.