Quarta-feira, 04 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 2 de dezembro de 2024
Empresas de fachada abertas em nomes de “laranjas” brasileiros disseminam cassinos virtuais irregulares, que funcionam sem qualquer controle. Entre os aliciados pelas “bets chinesas”, para emprestar documentos em troca de pagamentos, estão beneficiários de auxílios sociais, como o Bolsa Família. Um esquema de exploração de apostas online operado por chineses usa o cadastro de bets do governo federal para dar aparência de legalidade ao negócio.
Uma investigação do Estadão revela que o esquema inunda a internet com sites que oferecem jogos como o do “tigrinho”, sem regras claras sobre o mecanismo de apostas, ensina influenciadores a enganar novos apostadores com ganhos falsos e, ainda, movimenta quantidade desconhecida de recursos também por meio de empresas suspeitas. Procurado, o Ministério da Fazenda informou que as fraudes serão detectadas e que pode acionar o Ministério Público e a Polícia Federal
Para atrair apostadores, os sites exibem registros obtidos na Receita Federal e na Fazenda, mesmo antes de receber qualquer autorização do governo para operar – a Fazenda tem cinco meses para analisar as solicitações de novas casas de apostas protocoladas no seu Sistema de Gestão de Apostas (Sigap) após 17 de setembro.
Até o momento, 101 empresas estão oficialmente autorizadas a explorar apostas até 31 de dezembro, período que o governo diz ser de “adequação”. As regras para funcionamento das bets no País entram em vigor efetivamente em 1.º de janeiro e, para ter o aval do governo, além da documentação correta, cada bet terá de pagar R$ 30 milhões pela licença.
Mas, enquanto os requerimentos não são verificados e o valor da outorga não é cobrado, as empresas irregulares usam CNPJs e números de protocolo para simular amparo oficial para funcionar. Dos 183 pedidos de cadastros de bets no Sigap, o Estadão apurou que 33 foram registrados por pessoas que emprestaram dados em troca de pagamentos, ou tiveram os nomes usados irregularmente. “Laranjas” que admitiram à reportagem ter cedido nome e dados para os chineses disseram ter recebido R$ 600 por empresa cadastrada no Ministério da Fazenda.
Outras 20 empresas também têm indícios de irregularidades – aparecem como baixadas na Receita Federal ou estão em nome de beneficiários de programas sociais. Ou seja, é possível que pelo menos 29% das empresas com solicitações abertas no Ministério da Fazenda façam parte de esquemas fraudulentos.
O levantamento considerou pedidos protocolados no governo entre 18 de setembro e 25 de novembro. Há, ainda, um universo de sites de apostas ilegais de operadores que nem solicitaram cadastro à Fazenda.
Esse esquema é chamado no mercado como o das “bets chinesas”, porque parte dos operadores de sites é oriunda da China. Mas também há fraudadores que atuam a partir de outras nações asiáticas e do leste europeu, e que usam modelos semelhantes de sites e de contas para receber depósitos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.