A retração da economia no Rio Grande do Sul pode chegar a 10% até o fim do ano, mesmo se houver retomada gradual dos índices de atividade anteriores à pandemia de coronavírus. O alerta consta em uma pesquisa do governo gaúcho em parceria com a UFPel (Universidade Federal de Pelotas), com base em indicadores regionais do Banco Central sobre o consumo e a circulação das pessoas.
O estudo reuniu dois modelos distintos para estimar os efeitos da Covid-19. Chama a atenção o fato de que, mesmo em cenários menos pessimistas, a projeção é de que 2020 será pior que 2015, quando o Brasil viveu o pico de uma recessão.
Coordenado pelo professor Régis Augusto Ely, do Departamento de Economia da UFPel, o estudo não levou em consideração mudanças na estrutura produtiva no período pós-pandemia, devido à restrição de informações.
Se isso ocorrer, a queda da atividade econômica pode permanecer por um período longo de tempo. Caso o cenário se agrave (exigindo que o isolamento social permaneça até dezembro nos padrões atuais, por exemplo), a queda do índice medido pelo Banco Central pode ultrapassar a 16%.
Ely analisou indicadores que envolvem a arrecadação de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), cuja queda em abril foi de R$ 451 milhões na comparação com o mesmo mês do ano passado, bem como a emissão de notas fiscais eletrônicas (queda mensal de R$ 14,7 bilhões), demanda de energia elétrica e volume de veículos de passeio e de transporte cruzando praças de pedágio.
Diante desse quadro, o professor de Economia vislumbra apenas para 2021 o início de um ciclo de retomada. “Isso na hipótese de termos a nossa estrutura produtiva mantida e que esta recuperação seja rápida, sendo sentida logo nos primeiros meses do próximo ano”, ressalva.
Cenários
Conforme o economista e professor Adelar Fochezatto, da Escola de Negócios da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), a pesquisa também levou a estimativas de impactos da pandemia com base projeções de cenários agregados e setoriais para o VAB (Valor Adicionado Bruto). A arrecadação de ICMS também foi considerada.
Ele avaliou o desempenho dos principais segmentos produtivos do Rio Grande do Sul, observando indicadores como o choque de demanda de energia em cada setor, níveis de recolhimento do principal imposto estadual e queda na oferta de produtos primários por conta da forte estiagem que atingiu o Estado.
O resultado foram duas hipóteses básicas: a crise perdurando quatro meses e se prolongando por nove meses. Mesmo no cenário em que a economia gaúcha sofre por menos tempo, a economia pode recuar em -6,5% e -8,1%, com perdas de arrecadação de ICMS ficando entre R$ 1,8 bilhão e R$ 2,3 bilhões e entre R$ 21,7 bilhões e R$ 27,1 bilhões em termos de VAB.
Na situação mais extrema, a queda na cobrança do imposto ficaria entre R$ 4,1 bilhões e R$ 5,1 bilhões (variação negativa entre 14,6% e 18,2%), no mínimo o dobro do volume de repasses com o socorro federal que o Rio Grande do Sul receberá em quatro parcelas. Nessa situação mais extrema, as perdas de VAB ficariam entre R$ 48,8 bilhões e R$ 61,1 bilhões.
Nos cenários analisados, o setor automobilístico, a agropecuária, a indústria metalúrgica e a fabricação de aço são os que apresentam maiores variações negativas, tanto no VAB como na arrecadação de ICMS.
Fochezatto e Ely são colaboradores externos do Comitê de Dados, órgão responsável por elaborar análises e reunir dados para embasar as decisões do governo gaúcho no enfrentamento à pandemia. Eles atuam junto a um grupo de trabalho coordenado pela economista Vanessa Sulzbach, do DEE (Departamento de Economia e Estatística) da Seplag (Secretaria Estadual de Planejamento e Gestão).
(Marcello Campos)