Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 9 de março de 2019
Conforme a idade da mulher brasileira aumenta também cresce a desigualdade em relação ao salário pago aos homens, sempre maior. É o que mostra estudo divulgado pelo IBGE. A pesquisa comparou o rendimento médio de trabalhadores de 25 a 49 anos de idade dos dois grupos. Essa desvantagem salarial existe independente da profissão. Da auxiliar de serviços gerais aos cargos de gerência, em média as mulheres sempre recebem menos.
Em 2018, trabalhadoras da faixa etária mais jovem, de 25 a 29 anos, recebiam 87% do rendimento médio dos homens. Na faixa de 30 a 39 anos, elas ganhavam 81,6%. Mas, entre as de 40 a 49 anos, o percentual baixava para 75%. Nesse último grupo, o rendimento médio da mulher era de R$ 2.199 e o do homem, R$ 2.935
“Podemos apontar duas razões. Uma delas é o fato de as mulheres mais novas terem escolaridade mais elevada que as mais velhas e estarem inseridas em ocupações que pagam mais. A outra tem relação com a maternidade e os cuidados com outros familiares, que muitas vezes acabam levando a mulher a se afastar do mercado por alguns períodos. Quando ela volta, pode ter mais dificuldades de se inserir com o mesmo salário”, explica Adriana Beringuy, pesquisadora do IBGE.
Também contribui para esse maior descolamento salarial o fato de menos mulheres ocuparem cargos de chefia, algo geralmente alcançado na maturidade, complementa Ana Amélia Camarano, pesquisadora do Ipea. Para Ana Amélia, a tendência é que essa diferença diminua no futuro, já que as novas gerações são mais escolarizadas.
Segundo Adriana, do IBGE, todos ganham mais quando ficam mais velhos, só que o crescimento dos rendimentos dos homens é mais acentuado que o das mulheres. Enquanto os homens de 40 a 49 anos ganham, em média, 59% mais que os de 25 a 29 anos, entre as mulheres desses dois grupos a diferença é menor, de 37%.
A queda da proporção de rendimentos recebido pelas mulheres mais velhas acompanha a redução da jornada média de trabalho remunerado. No grupo mais jovem, ela trabalha cerca de 3,6 horas menos que o homem da mesma idade. No grupo da outra ponta, a diferença chega a 5,4 horas em 2018. A pesquisa não considerou as horas empregadas em afazeres domésticos e cuidados da família, onde historicamente a mulher tem uma carga bastante superior à dos homens.
Um levantamento realizado pelo economista Bruno Ottoni, pesquisador do Ibre/FGV e da Consultoria iDados, feito ano passado, identificou que os rendimentos das mulheres brasileiras que têm filhos são, em média, 35% menores do que os das que não têm. Para fazer a comparação, Ottoni utilizou dados do IBGE sobre a população de mulheres casadas, empregadas e com idades entre 25 e 35 anos, disponíveis na ocasião.
Enquanto as mulheres que não têm filhos (1,35 milhão dentro do perfil considerado) ganham, em média, R$ 2.182,06 por mês, as que têm filhos (2,9 milhões) recebem R$ 1.618,47.
“A maternidade é um ônus na vida das mulheres e a sociedade não quer pagar essa conta. A cada filho que gera é uma pedra que coloca na sua carreira profissional”, resume a economista da UFF Hildete Pereira de Melo, especialista em trabalho e desigualdade de gênero.
Segundo a economista, enquanto a carreira dos homens é sempre ascendente, a das mulheres é um U. Ou seja, a mulher consegue ganhar espaço até o momento que começa a ter filhos, depois disso, acaba tendo perdas e só volta a poder se dedicar à carreira quando eles crescem.
“Nossa participação no mercado de trabalho aumentou, mas nosso salário vai lá para baixo”, diz Hildete.
De um total de 93 milhões de brasileiros empregados, 43,8% (40,8 milhões) são mulheres e 56,2% (52,1 milhões) são homens.
Ela ressalta que, apesar das barreiras no mercado de trabalho existirem para mulheres de todas as classes sociais, as de renda mais alta têm mais recursos para driblá-las:
“Têm condições de contratar babá, pagar creche particular, enquanto as de renda baixa muitas vezes têm de deixar de trabalhar por não ter com quem deixar os filhos.”
Para Hildete, essa realidade pode ser revertida com a universalização do acesso a creches públicas e oferta de escolas em tempo integral durante todo o ensino básico para que as mulheres possam se dedicar mais ao trabalho remunerado. Além de uma mudança de olhar de quem contrata, geralmente homens.