Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 18 de fevereiro de 2018
O depoimento de um ex-funcionário da Odebrecht que não fechou acordo de delação premiada reforça a suspeita de irregularidades nas obras da Cidade Administrativa de Minas Gerais, durante a gestão Aécio Neves. Ex-coordenador de execução de um lote, Carlos Berardo Zaeyen afirmou à PF (Polícia Federal), em 20 de novembro, que o consórcio responsável por esse trecho do empreendimento — formado por Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão — firmou dois contratos que, na prática, teriam sido usados apenas para justificar o repasse de dinheiro.
Zaeyen depôs no inquérito que apura as suspeitas de pagamento de propina ao senador do PSDB, que era governador na época da obra, por parte das empreiteiras. Zaeyen era subordinado ao diretor da Odebrecht Sérgio Luiz Neves, que fez acordo de delação e contou sobre o esquema de corrupção.
Zaeyen disse não ter tomado conhecimento sobre o acerto de propina que teria sido feito por seus superiores. Responsável por fazer relatórios mensais, ele contou ter assinado os contratos com as construtoras Cowan e Alicerce “por confiança em seu diretor”. O contrato com a Alicerce era no valor de 2,6 milhões de reais e tinha entre os objetivos a realização de estudos de planejamento executivo do empreendimento. Zaeyen afirmou que, no entanto, o estudo foi apresentado quando a obra já estava em andamento. “O cronograma geral apresentado era uma mera constatação do que já vinha sendo implementado pelo consórcio”, relatou.
Em relação à Cowan, o contrato de 5 milhões de reais previa o aluguel de cinco guindastes, oito caminhões betoneira e cinco bombas de concreto. À PF, Zaeyen disse não se recordar da utilização de equipamentos da empresa nas obras e que as gruas e elevadores daquele trecho foram alugadas da empresa Pingon. Já os caminhões e as bombas de concreto foram alugados da empresa Holcim, segundo ele. A Cidade Administrativa de MG foi citada por delatores da Odebrecht como sendo uma obra em que teria havido um acerto entre as empreiteiras com o conhecimento de Aécio para definir os consórcios vencedores. Como contrapartida, combinaram o pagamento de 3% do valor total do contrato em propinas para o tucano.
À PF os representantes da Cowan e da Alicerce afirmaram que os serviços foram prestados. O criminalista Castellar Modesto Guimarães Neto, que representa a Alicerce, informou, por meio de nota, que “a defesa já apresentou dezenas de documentos que demonstram a veracidade do contrato firmado”. Em nota, Aécio diz que “a acusação é falsa e atende a interesses, tendo sido desmentida em depoimentos”. A Cowan informou que o contrato “foi cumprido, e que todos os documentos, assinados por várias pessoas, além desse único depoente, foram juntados ao inquérito”.
Em nota, a Odebrecht afirma que “está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Suíça, República Dominicana, Equador, Panamá e Guatemala, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas”.