Sábado, 11 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de março de 2018
Ainda em estágio inicial de desenvolvimento, o filme sobre a vida de Marielle Franco quer esclarecer quem foi a jovem da Maré que se tornou vereadora e, hoje, representa a luta contra intolerância e violência no Brasil.
A cinebiografia está sendo tocada pela produtora Paula Barreto, filha de Lucy e Luiz Carlos Barreto. João Paulo Reys deve ficar a cargo do roteiro, junto com Flavia Guimarães (“Berenice procura”, de 2017), e Jorge Mautner cuidará da parte musical.
“Eu já conhecia a Marielle porque ela era uma das melhores amigas da minha filha, mas foi assistindo a um depoimento dela em um documentário do João Paulo Reys sobre a intervenção do Exército durante as Olimpíadas, ainda em fase de finalização, que percebi como ela era extraordinária. Logo depois, aconteceu o assassinato”, conta Paula Barreto, que ainda não escolheu o diretor.
O longa será uma ficção e vai focar na origem de Marielle, que cresceu na Maré e viraria a 5ª vereadora mais votada no Rio. Ela e o motorista Anderson Gomes foram assassinados a tiros na última quarta-feira, no Centro, quando voltavam de um evento na Lapa. O filme, ainda sem título e data de lançamento, vai contar com atores e equipe vindos da Maré. A renda obtida será destinada aos moradores do complexo.
“Queremos contar onde ela foi criada, a influência da Maré nela e como se transformou nessa líder que perdemos. O que importa, agora, são os seus ideais”, explica Paula, que espera que o filme sirva de reação às informações falsas sobre a vereadora espalhadas nas redes sociais. “Fiquei assustada quando entrei no Facebook e vi a quantidade de haters. Muita gente a denegrindo, sem saber se as informações são verdadeiras ou não. As pessoas não se preocupam em saber de onde vem a notícia. Há milhares de Marielles no Brasil, precisamos contar essa história.”
Irmã
Quatro dias após o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), a mobilização social nas ruas do País estava longe de ser silenciada. Na tarde de domingo (18), centenas de pessoas caminharam pela Linha Amarela, em frente ao Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, para protestar contra a morte da ativista. Empunhando faixas e imagens de Marielle, o grupo pedia justiça e gritava contra a tentativa de silenciá-la.
Uma das vozes mais presentes desde a noite do crime, a irmã de Marielle, Anielle Franco, ainda tentava achar uma explicação para a barbaridade: “O que matou ela foi o que ela lutava. Ela lutava por tudo de minoria, ela era contra intolerância, preconceito, ela era contra racismo […] A pergunta que fica para mim é ‘por que mataram ela?’. Por que ela era negra, por que ela era favelada, por que ela defendia os pobres, os negros, os homossexuais? Eu não sei quem matou, mas eu sei que eles não esperavam, eu sei que o que levou a matar é que ela mexia em coisas que muita gente tinha medo de mexer. Ela batia no peito e falava que era homossexual, falava que ela tinha vindo da Maré, falava que ela negra, favelada. Eu acho que isso incomodava um pouco […] Só tinham essa maneira de calar minha irmã. Só matando ela. Se não matam a Marielle, ela hoje ia estar mais longe. Eu acredito até Senado, governo, não sei. Mas se não calam ela dessa maneira, ela ia alçar hoje voos muito mais altos”.