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“Um governo só termina quando outro toma posse”, diz Marina Silva sobre compromissos assumidos pelos EUA pós-eleição de Trump

Marina defende que "não há como fazer barreiras ideológicas" em relação a temas como clima e saúde. (Foto: Mario Agra/Câmara dos Deputados)

Para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a eleição do republicano Donald Trump nos Estados Unidos — um defensor da exploração de petróleo e negacionista do clima — não anuncia o fim dos compromissos assumidos por Washington com a agenda climática do Brasil, incluindo um financiamento de US$ 50 milhões para o Fundo Amazônia anunciado no último domingo (17).

“Um governo só termina quando outro toma posse. Os compromissos de Estado são compromissos de Estado”, comentou Marina durante um evento privado da Noruega, antes do início do G20, na noite de domingo, no Rio de Janeiro.

Na visão da ministra, a possível ausência dos Estados Unidos em fóruns de debates e acordos importantes sobre o clima nos próximos anos é “obviamente um prejuízo muito grande, mas não é o fim do mundo”.

“[Os EUA] são o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do mundo e o país com maior volume de recursos e base tecnológica, então é um prejuízo enorme. Mas não vamos esquecer que os EUA não estavam no Protocolo de Kyoto e que a entrada deles no Acordo de Paris foi um processo bem posterior aos demais, e a agenda climática andou”, ponderou.

Marina defende que ações multilaterais de enfrentamento e diz que “não há como fazer barreiras ideológicas” em relação a temas como clima e saúde, que afetam o mundo inteiro.

“A Covid-19 nos ensinou que se não estivermos numa agenda de cooperação conjunta fica muito difícil dar conta do enfrentamento de uma pandemia”, explicou. No caso da mudança do clima também não se resolve sem uma forte ação multilateral em diferentes frentes, governamental, científica e tecnológica, dos movimentos sociais e do setor empresarial.

Desafio

Sob o impacto do resultado das eleições norte-americanas, o G20 Social pediu o reconhecimento da urgência para acelerar a transição ecológica e enfrentar as mudanças climáticas.

Em meio a catástrofes recentes, como as inundações em Valência, na Espanha, a seca na Amazônia, os incêndios florestais e as enchentes no Rio Grande do Sul, representantes da sociedade civil e do governo ressaltaram a necessidade de reconstruir o modelo de desenvolvimento econômico global o mais rápido possível.

Negociadora-chefe do Acordo de Paris, assinado em 2015, a economista, professora e diplomata francesa Laurence Tubiana ressaltou o desafio de conscientizar a população mundial após a eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos. Laurence advertiu para os riscos do negacionismo climático.

“Há alguns dias, as eleições americanas deram poder a Trump. E ele fez um caso para negar a crise climática e as transições para as políticas que estão prontas para acontecer. Uma parte significativa dos Estados Unidos e do mundo nega a crise climática, apesar dos furacões recentes na Flórida e na Carolina do Norte. É um desafio que temos diante da gente, com líderes globais dizendo que isso não existe”, afirmou Laurence Tubiana.

Para a economista, o Brasil terá um papel importante nos próximos anos para manter os compromissos acertados nas últimas Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP). “Neste momento, na COP, todos os países estão obrigados a apresentar sugestões sobre o clima de alguma maneira. O papel do Brasil é muito crucial no topo de tudo isso. É necessário solidariedade, não só de governos, mas das próprias pessoas e dos setores econômicos”, declarou.

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