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Um jovem casal conseguiu furtar 2 bilhões de dólares em obras de arte durante 8 anos

O quadro “Sybille, Princesa de Cleves” foi a obra de arte mais valiosa subtraída por eles. (Foto: Reprodução)

Durante oito anos, um casal de jovens franceses conseguiu enganar a segurança de dezenas de museus e casas de leilão na Europa e furtar obras de arte cujo valor, somado, chegaria a US$ 2 bilhões, segundo avaliação de especialistas.

O procedimento padrão deles era ir a um museu – os dois bem-vestidos, ela usualmente com roupas de grifes famosas compradas em brechós – e comprar os ingressos. Nada de arrombamentos ou de tentar entrar sem pagar. Com frequência, ele já tinha ido ao museu anteriormente e selecionado um quadro ou escultura ou outro item que gostaria de levar para casa. Ele era fascinado por arte de modo geral, especialmente por objetos da Idade Média.

Os museus escolhidos eram pequenos, com pouca segurança. Ele aproveitava a distração dos funcionários – às vezes provocada pela namorada – para simplesmente pegar o objeto escolhido e colocá-lo dentro do seu casaco ou numa mochila ou ainda na bolsa da namorada. Sua única ferramenta de “trabalho” era um canivete, que usava para desatarraxar parafusos e cortar telas, quando preciso. Depois do furto (não era roubo porque não envolvia violência), os dois iam embora, calmamente, como se nada de extraordinário tivesse ocorrido. Algumas vezes, poucas, tiveram que deixar o local do crime mais apressadamente por causa de alarmes.

Durante essas jornadas, cenas rocambolescas ocorreram. Uma vez, o ladrão não viu outra saída a não ser jogar pela janela o que ele tinha acabado de furtar, uma arma da Idade Média, conhecida como besta, semelhante a um arco. Ela fazia parte do acervo de um museu instalado num castelo erguido no século XII na Alsácia. O casal programara a “visita” num dia especialmente frio, no inverno, sabendo que o museu não tinha aquecimento e, provavelmente, o número de turistas seria pequeno. Como a arma era muito grande, não dava para esconder na roupa ou na mochila. Por isso, o ladrão escolheu jogá-la pela janela que dava para uns arbustos no jardim, de forma que as plantas amorteceram a queda, sem estragos.

Parecem cenas de um filme de Alfred Hitchcock ou estrelado por Tom Cruise baseado num livro de John Grisham ou de Ian Fleming. Parece inacreditável, mas é verdade. E aconteceu na Europa – inclusive na Suíça, país sinônimo de ordem e segurança –, e centenas de vezes. Quando foi preso, ele, Stéphane Breitwieser, admitiu que roubara 239 pinturas e outros itens de galerias e casas de leilão, além de museus, em seis países europeus entre 1995 e 2001. Ou seja, em média ele e a namorada, Anne-Catherine Kleinklaus, roubavam três vezes a cada mês em seis anos.

Eles levavam os objetos furtados para a casa da mãe de Breitwieser, onde o casal morava, no sótão. Lá, dormiam em uma cama rodeada de quadros como “Sybille, Princesa de Cleves”, do pintor renascentista alemão Lucas Cranach, o Velho, que viveu entre 1742 e 1553. Foi a obra de arte mais valiosa subtraída por eles, avaliada no equivalente a R$ 35 milhões. Breitwieser cortou a tela da sua moldura numa exposição antes de um leilão da Sotheby’s onde o quadro seria vendido.

Essa é a história contada em “The Art Thief: A True Story of Love, Crime and a Dangerous Obsession” (O ladrão de arte: uma história verdadeira de amor, crime e obsessão perigosa, em tradução livre), de Michael Finkel, ainda sem edição no Brasil. Os fatos são sensacionais, mas o livro deixa a desejar. Entre suas falhas, uma certa complacência do autor no tratamento do seu personagem principal, Breitwieser, que lhe explicou que roubava por amor à arte, sem pensar em ganhos financeiros. De fato, antes de ser preso, Breitwieser não tentou vender os objetos. Depois que saiu da prisão, foi pego tentando vender o que furtara.

A outra face curiosa do livro é seu autor – e seu passado explica a boa vontade com Breitwieser. Finkel iniciou sua carreira como repórter e ganhou uma indesejável notoriedade nos Estados Unidos porque foi descoberto que uma dessas matérias, publicada em 2002 pela revista do “The New York Times”, não era correta. Ele escreveu um texto em que retratava um personagem que não existia de verdade – foi construído a partir de entrevistas com várias pessoas, além de conter outros fatos falsificados. Finkel foi demitido e logo em seguida descobriu que um criminoso, Christian Longo, que tinha assassinado a mulher e três filhos, usava um pseudônimo como fugitivo da polícia.

Ele se apresentava como Michael Finkel. Ou seja, outra história mirabolante, desta vez com o autor do livro. Finkel escreveu um livro a partir das suas entrevistas com Longo e o “roubo” da sua identidade. As informações são do jornal Valor Econômico.

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