Domingo, 19 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 8 de dezembro de 2018
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
No debate sobre a questão ambiental há (como em quase todo debate) duas posições antagônicas: a dos ambientalistas que veem o mundo à beira da destruição, por causa da ação predatória do homem, e a dos conservadores, que asseguram que o homem, na sua ilimitada capacidade de criar e inventar, dará um jeito na degradação ambiental.
É interessante: quando o tema é o meio ambiente, os conservacionistas – que poderiam perfeitamente ser chamados de conservadores – estão à esquerda, no espectro político.
Mas é isso. Só confirma que a divisão entre esquerda e direita se tornou insuficiente para definir as posições em jogo, o que acontece também na economia, na política, no comportamento.
Prova disso é o excelente livro do escritor e filósofo inglês Roger Scruton, “Filosofia Verde – Como Pensar Seriamente o Planeta”. Scruton não tem receio de se dizer conservador. No Brasil e na América Latina alguém se dizer conservador ou liberal é quase um defeito de caráter.
E no entanto, Scruton faz duras críticas à especulação imobiliária, à construção de shoppings, supermercados e aeroportos. Se alinha, pois, à esquerda ambientalista e anticapitalista.
O escritor inglês, porém, está convencido de que a questão ambiental não se resolverá pela via das regulações do Estado. Ele lembra o Leste europeu comunista, onde era o mesmo ente – o Estado –, que legislava, fiscalizava e punia. Por que o Estado iria fiscalizar e punir a si mesmo se tudo era uma coisa só? Essa impertinência foi a causa da calamidade ambiental daquela região, incluindo Chernobyl.
Mesmo nas democracias ocidentais, segundo Scruton, os burocratas dos organismos estatais terminam por se tornar um risco ao meio ambiente. Com a sua “necessidade incontrolável de serem vistos fazendo algo”, as suas decisões produzem efeitos colaterais que frequentemente pioram o que procuravam solucionar. O autor cita o exemplo de 1993, quando o governo dos EUA proibiu os moradores de Riverside, Califórnia, de usar cordões contra incêndio, pois estes prejudicariam o deslocamento de uma espécie em extinção, o rato-canguru. Quando “incêndios varreram a região”, não sobrou nem a casa dos fazendeiros nem os roedores.
É que as ações regulatórias, tomadas de cima para baixo, não envolvem a compreensão e a cooperação dos cidadãos comuns e dos agentes econômicos. Os burocratas reguladores só conseguem olhar o contexto na abordagem estreita de suas concepções. Tendem a ver mal a relação existente entre a regulação que ele cria, (quase) sempre restritiva, e os efeitos nos demais “locus” de influência e desdobramento. Têm uma compreensão escassa da relação de custo e benefício. Assim, “regulações criadas para solucionar problemas tendem a criar novos problemas da mesma ordem ou de ordem mais elevada”.
As consequências são previsíveis: a regulação engessa e paralisa, impede providências inovadoras, afasta soluções consensuais e ajustes de pequena escala.
Há mais, muito mais. Se querem um livro sobre um tema candente e atual, que distingue o “profundo do rasteiro”, com uma abordagem instigante, escrito com estilo e elegância, leiam “Filosofia Verde”.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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