Poucos filmes deste ano ganharam tantas manchetes quanto “O Aprendiz”. O filme de Ali Abbasi sobre um jovem Donald Trump (Sebastian Stan) sob a tutela do cruel advogado Roy Cohn (Jeremy Strong) causou alvoroço no Festival de Cannes, foi ameaçado com um processo pela campanha de Trump e viu suas possibilidades de lançamento diminuírem até uma distribuidora, a Briarcliff Entertainment, se dispor a colocá-lo nos cinemas.
Abbasi, Stan, Strong e o roteirista Gabe Sherman falaram sobre como esse filme tão improvável foi criado e como eles esperam que seja recebido no contexto das eleições norte-americanas de novembro. Trump concorre novamente à Presidência pelo Partido Republicano, contra a democrata Kamala Harris, atual vice-presidente dos EUA.
Montagem
Sherman conta que o filme é sobre como o relacionamento entre eles colocou Trump no caminho para virar presidente. “Fiquei impressionado com uma coisa que as pessoas que trabalharam para Trump desde os anos 1980 me disseram: durante a campanha, ele usou muitas das estratégias que tinha aprendido com seu mentor, Roy Cohn”, conta.
“A ideia me veio num piscar de olhos. O filme é sobre isso. Donald era o aprendiz de Roy.” “Cohn talvez seja a pessoa mais fascinante que já estudei, interroguei e interpretei”, conta Strong.
Por outro lado, diz Abbasi, tanto Donald quanto sua ex-mulher, Ivana, nunca foram tratados como seres humanos. “Ou eles são tratados muito mal ou extremamente bem – é como se fosse uma coisa mitológica”, afirma. “A única maneira de quebrar esse mito é desconstruílo. E acho que uma visão humanística é a melhor maneira de conseguir isso.”
Aventureiro
Abbasi compara Trump a Barry Lyndon, protagonista do filme homônimo de Stanley Kubrick, de 1975, que se passa no século 18, sobre um aventureiro inglês que faz o que for preciso para chegar à aristocracia.
“Com Barry Lyndon, não pensamos nele como um cara bom ou ruim. Ele tem essa ambivalência e essa capacidade extraordinária de se adaptar. Ele quer ser alguém. Ele não sabe realmente o que ou por quê. Ele só quer subir na vida”, explica.
Segundo Sherman, Sebastian Stan agiu de forma “totalmente destemida” ao interpretar o ex-presidente. “Muitos outros atores recusaram o papel porque não queriam encarar o desafio”, afirma.
Para Stan, atuar no longa foi uma aventura. “Não foi um filme que surgiu com facilidade. É um filme que eu já conhecia havia algum tempo”, relata. “Conheci Ali (Abbasi) em 2019. E aí pensei: ‘Se isso não vai acontecer, é porque não é para acontecer mesmo. Não vai ser por minha causa, porque estou com medo. E eu não tinha muita concorrência’.”