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Por Redação O Sul | 1 de maio de 2018
Um homem era resgatado pelos bombeiros quando um prédio em chamas desabou no Centro de São Paulo, na madrugada desta terça-feira (1º). Ele se chamava Ricardo e tinha cerca de 30 anos, segundo moradores da ocupação onde ele vivia. Eles contaram que Ricardo já tinha saído do edifício, mas voltou para tentar ajudar os moradores dos andares mais altos, que estavam com dificuldade para sair.
“Muitas mulheres moravam sozinhas e tinha crianças. Ele voltou para ajudar no resgate dessas famílias”, diz o morador e antigo porteiro do prédio Gerivaldo Araújo, de 42 anos.
Há quatro anos, Ricardo vivia na ocupação do prédio de 24 andares na região do Largo do Paissandu. O momento em que um bombeiro tenta salvar Ricardo, e o prédio veio abaixo, por volta das 2h50 da manhã, chegou a ser filmado por um cinegrafista.
Ricardo morava sozinho e trabalhava no centro de São Paulo descarregando produtos importados chineses. Por dia, é possível ganhar R$ 50, contam seus vizinhos e colegas de trabalho. “No seu apartamento, tinha mais planta do que móveis”, afirma Gerivaldo.
O homem é considerado desaparecido pelos bombeiros, mas a corporação afirma que as chances de Ricardo ser encontrado vivo são pequenas. A corda e o cinto usados pela vítima foram achados nos escombros do prédio nesta manhã e são realizadas buscas com cães farejadores.
Incêndio e desabamento
O local do incêndio era uma ocupação irregular, e moradores afirmam que o fogo começou por volta da 1h30 no 5º andar e se espalhou rapidamente pela estrutura.
Ainda não se sabe o que causou as chamas. Peritos do Instituto de Criminalística de São Paulo analisam dois botijões de gás encontrados nos escombros.
O capitão Marcos Palumbo, porta voz dos bombeiros, disse que outras hipóteses serão apuradas, como curto-circuito. “A única certeza até agora que temos é a de houve um incêndio e só análises aprofundadas dirão o que causou.”
Conselho de Arquitetura e Urbanismo emite nota e faz alerta
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo emitiu uma nota sobre o caso e fez um alerta quanto a outros prédios em situação semelhante na cidade – o próprio prefeito Bruno Covas já confirmou existirem outros 70 em condições similares – para evitar novas tragédias.
Confira a íntegra da nota:
“O Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo se solidariza com as famílias das vítimas do incêndio e desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida e lamenta que a tragédia torne explícito mais um exemplo do descaso do Poder Público, em todas as esferas, com o atual quadro urbanístico das nossas cidades e com ausência recorrente de uma Política Habitacional Nacional consistente aliada a preservação do Patrimônio Histórico de São Paulo.
O edifício, projetado pelo arquiteto Roger Zmekhol, em 1961, era um dos melhores exemplos da arquitetura moderna na cidade e foi tombado, em 1992, pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo.
No entanto já estava degradado por abandono, falta de manutenção e sucessivas ocupações informais e outras organizadas. Sem se entenderem, o governo, nas diversas esferas e a Justiça permitiram que o cenário fosse se perpetuando, o que adiou sua possível recuperação e nova destinação, com potencial para amenizar a precária situação habitacional do centro e dar melhor uso à infraestrutura da região.
Há muitas outras construções em situação idêntica na área. Antes que novas tragédias aconteçam, é hora de uma ação política urbana articulada, séria e eficaz a respeito. Não apenas pelos edifícios icônicos, mas sobretudo por justiça social.”