Terça-feira, 21 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de dezembro de 2017
O prédio que Joesley Batista, dono da JBS, diz ter comprado “fazendo de conta” que valia R$ 17,3 milhões, com o propósito de repassar dinheiro a Aécio Neves (PSDB-MG), foi posto à venda em Belo Horizonte por menos de 15% do que foi pago pelo empresário.
Uma avaliação da Justiça, que determinou o leilão do bem, fixou em R$ 2,5 milhões o preço do imóvel. O lance mínimo para arrematá-lo foi ainda menor – R$ 750 mil –, valor equivalente a um apartamento de três quartos no Plano Piloto, em Brasília.
O pregão para definir o futuro do edifício, além de um lote vizinho, estava marcado para 22 de novembro, mas foi suspenso porque a J&F, holding que controla a JBS, apresentou embargos à Justiça, com pedido de liminar.
Em sua delação, Joesley disse que, a pedido de Aécio, aceitou pagar preço superfaturado pelo imóvel para cobrir dívidas de campanha do senador. O prédio era da editora Ediminas, do empresário Flávio Carneiro, ligado ao congressista. No local, funcionava o jornal “Hoje em Dia”.
O negócio foi feito em setembro de 2015 e o pagamento, parcelado. “Precisava de R$ 17 milhões e tinha um imóvel que dava para fazer de conta que valia R$ 17 milhões”, afirmou Joesley.
A Justiça do Trabalho mandou penhorar o prédio para quitar dívida de R$ 100 mil da Ediminas com um entregador de jornais.
A 30ª Vara do Trabalho de BH mandou suspender o leilão até, ao menos, o julgamento dos embargos da J&F. A holding argumenta que o bem já está em seu nome e que não cabe vendê-lo para quitar débitos da editora.
Embora Joesley tenha dito que o prédio foi superfaturado, a J&F contraria a versão dele e sustenta que vale R$ 18 milhões. Aécio, em nota, diz que não teve “relação com a compra ou venda do prédio”, “não tendo os delatores apresentado prova da acusação”.
Relembre o caso
Executivos da JBS disseram ao Ministério Público que pagaram pelo menos R$ 60 milhões em propina para o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) em 2014.
Segundo a delação premiada, em troca do dinheiro desembolsado, o tucano usou o mandato para “beneficiar diretamente interesses do grupo”.
Aécio teria ajudado na liberação de créditos de R$ 12,6 milhões de ICMS da JBS Couros e dos créditos de R$ 11,5 milhões de ICMS da empresa ‘Da Grança’, adquirida pela JBS na compra da Seara.
Há ainda informação de que a companhia ajudou a comprar partidos para entrarem na coligação da chapa candidata à presidência, encabeçada pelo PSDB – derrotada por Dilma Rousseff.
A colaboração dos funcionários do frigorífico foi homologada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF (Supremo Tribunal Federal).
De acordo com os relatos aos procuradores, a empresa emitiu uma série de notas fiscais frias a diversas empresas indicadas pelo senador.
Além da revelação do valor de propina pago em 2014, a JBS disse também que após a campanha presidencial de Aécio, naquele ano, “vendeu um imóvel superfaturado por R$ 17 milhões a pessoa indicada por Aécio com o fim de fazer chegar a Aécio o dinheiro”. O pagamento, segundo a delação, por meio de transferência bancária.
Os executivos da empresa relataram também que em 2016 o senador pediu mais um valor de R$ 5 milhões.