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Projeto liderado por brasileiro em missão da Nasa usará partículas na atmosfera para estudar clima

Projeto é liderado pelo físico Vanderlei Martins, professor da Universidade de Maryland. (Foto: Reprodução/Youtube)

Um satélite do tamanho de uma fatia de pão de forma – e com assinatura brasileira – será lançado no espaço com o objetivo de contribuir para os estudos das mudanças climáticas na Terra. O equipamento coletará dados sobre a influência de partículas suspensas na atmosfera na formação de nuvens e sua relação com variações registradas nas últimas décadas no clima.

O dispositivo embarcará em outubro numa missão não tripulada da Nasa, a agência espacial americana, em um projeto liderado pelo físico brasileiro Vanderlei Martins, professor da UMBC (Universidade de Maryland, Baltimore Country), nos Estados Unidos.

Chamado de Harp CubeSat, o satélite permitirá observar o mesmo ponto na superfície da Terra sob 60 ângulos diferentes. Ele ficará no espaço por um ano. Segundo Martins, o tema do estudo é pouco compreendido na comunidade científica e pode ajudar a alavancar novas pesquisas.

“O efeito dessas partículas na formação de nuvens é hoje a maior incerteza quando se fala em projetos sobre a mudança climática”, disse Martins, que foi bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, que colabora no desenvolvimento do algoritmo que analisará as medidas feitas pelo satélite.

As pequenas partículas suspensas na atmosfera terrestre, como poeira, fuligem, fumaça e poluição urbana, são chamadas de aerossóis atmosféricos. Elas influenciam diretamente o balanço de radiação da atmosfera, causando um efeito de resfriamento da Terra, e foram, ao longo do século, determinantes no crescimento ou na diminuição da temperatura global do planeta. Mas podem ser também poderosos poluentes, no caso dos aerossóis produzidos pelo homem, como a poluição, com efeitos diretos na saúde pública.

A exposição frequente a essas partículas pode causar uma série de complicações – e mata cerca de 30 milhões de pessoas por ano, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde). “Quando tipos de partículas mais claras, como poeira ou pólen, ficam na Terra, podem refletir a radiação solar de volta para o espaço, o que reduz a quantidade de energia solar no planeta. Se são partículas mais escuras, como fuligem e fumaça, elas absorvem radiação solar, causando aquecimento na atmosfera”, explicou o físico brasileiro.

As partículas suspensas na atmosfera também influenciam na formação de nuvens. Cada gota da nuvem, disse Martins, é formada em volta de partículas de aerossol atmosférico, que pode ou não ser maléfico. A questão é que, quanto mais se emitem aerossóis poluentes na atmosfera, mais se alteram não só a composição e o balanço de água, como também o tempo de vida das nuvens e a probabilidade de chuva.

“Sabemos que existe forte correlação entre concentração de certos aerossóis e a ocorrência de mortes prematuras em certas regiões. Mas, nos casos de balanço de energia e de formação de nuvens, ainda precisamos descobrir como se dá essa influência, e em quais casos será benéfica ou não. Dependerá do tipo de aerossol e das condições meteorológicas de cada lugar. É algo complexo, e ainda estamos estudando isso”, destacou Martins.

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