Quinta-feira, 06 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de agosto de 2018
Em novembro, o quadro “Salvator Mundi” – o salvador do mundo, em português – foi vendido pelo valor recorde de 450 milhões de dólares, algo como 380 milhões de euros ou 2 bilhões de reais. Mas agora, cerca de nove meses depois da compra – feita por um príncipe saudita –, um dos principais estudiosos da obra de Leonardo da Vinci colocou em causa a autoria da pintura.
Vendido pela leiloeira de luxo Christie’s, a pintura que representa Cristo com um globo de vidro na mão foi apresentada como “o último da Vinci” e confirmada como um dos menos de 20 quadros de Leonardo da Vinci que foram encontrados.
Matthew Landrus, historiador de arte na Universidade de Oxford, acredita que a maior parte do quadro foi pintada por Bernardino Luini, um dos assistentes do famoso artista italiano. Para Landrus, Luini é o “pintor primário”, ao passo que da Vinci só participou em 5 a 20% do resultado final.
“É um quadro de Luini. Ao olhar para as várias versões dos trabalhos dos estudantes de Leonardo, podemos ver que o Luini pinta tal e qual o trabalho que podemos ver no ‘Salvator Mundi’”, explicou o historiador de arte ao The Guardian.
Matthew Landrus garante que uma simples comparação de “Salvator Mundi” com alguns trabalhos de Bernardino Luini prova a verdadeira autoria da pintura que bateu recordes – principalmente o quadro “Cristo entre os doutores”, que está exposto na National Gallery, em Londres, e vale menos de um milhão de euros. Para o historiador de arte, que já publicou vários livros sobre da Vinci, os principais pontos de contato encontram-se na representação do ouro e das vestes: “É possível ver uma construção semelhante nas faixas de ouro e na maneira como o tecido é feito. Além disso, a face de Cristo em ambas as pinturas tem uma modelação muito similar e as abordagens são muito parecidas. Os ombros de Cristo também são muito parecidos”.
O estudioso da obra de Leonardo da Vinci atribui ao artista italiano a sofisticação da técnica do sfumato presente na pintura, ou seja, “as suaves gradações de sombra que evitam contornos perceptíveis ou mudanças dramáticas de tons”. “No fundo, podemos chamar-lhe uma pintura do estúdio de Leonardo”, disse Matthew Landrus.
A verdade é que, para além de Landrus, vários especialistas têm dúvidas sobre a autoria do quadro. Vincent Delieuvin, o diretor da arte italiana do século XVI exposta no Museu do Louvre, recusou comentar o assunto quando abordado pelo The Guardian. Já Michael Daley, o diretor da ArtWatch UK, criticou a falta do “naturalismo e complexidade de postura” de Leonardo da Vinci na pintura e considerou a teoria de Matthew Landrus “muito interessante”. E, no fundo, a história dá-lhes razão: em 1900, quando comprado por Sir Charles Robinson, “Salvator Mundi” foi de fato atribuído a Bernardino Luini.
Adquirido em novembro por um príncipe saudita que o entregou ao Departamento de Cultura e Turismo de Abu Dhabi, o “Salvator Mundi” vai ser exibido em setembro no Museu do Louvre de Abu Dhabi até integrar uma exposição sobre Leonardo da Vinci no Louvre no próximo ano.