Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 15 de julho de 2018
Uma grande polêmica se instaurou após o zagreiro croata Domagoj Vida dizer, em um vídeo,”Slava Ukrayini” (Glória à Ucrânia) para que ele recebesse acusações de ser simpático a movimentos nazi-fascistas do Leste Europeu. A questão levou o jogador a pedir desculpas públicas aos russos, e a Federação de Futebol da Croácia teme que o atleta sofra alguma punição mais severa da entidade máxima do futebol.
Na gravação que foi o estopim para as críticas à seleção croata, o zagueiro Vida estava com Ognjen Vukojevic, da comissão técnica croata — e que acabou descredenciado do Mundial depois do episódio, conforme o portal G1. Os dois jogaram juntos pelo clube ucraniano Dínamo de Kiev e, assim, têm relação com o time da capital da Ucrânia.
Logo após a vitória nos pênaltis sobre a Rússia, nas quartas de final, Vida e Vukojevic entoam o slogan “Glória à Ucrânia” em ucraniano. Disseram, ainda, que a vitória era dedicada àquele país. Isso foi interpretado como provocação aos russos, derrotados em campo. Vida ainda aparece em um segundo vídeo em que, após repetir o “Glória à Ucrânia”, diz: “Belgrado pegando fogo!”. Belgrado é a capital da antiga Iugoslávia, e, atualmente, da Sérvia, inimiga política da Croácia. E os sérvios têm relação de amizade histórica e étnica com os russos.
“Foi um desafio, foi uma provocação”, comentou Franz Klintsevich, membro do Parlamento russo.
Outro parlamentar, Sergei Tsekov,também exigiu “sanções” contra Vida e Vukojevic por usarem uma saudação “nazista”, como informa a agência Bloomberg. Mas qual é o motivo dessa reação? Uma das razões está no fato de o slogan ser entoado em manifestações ucranianas contrárias ao separatismo pró-Rússia que levou, inclusive, à anexação da Península da Crimeia pelos russos.
E como o movimento antipático a Moscou engloba também grupos considerados simpáticos ao fascismo na Ucrânia, a expressão “Glória à Ucrânia” acaba sendo associada ao ultranacionalismo xenófobo.
Essa saudação cresceu nos anos 1930, quando a União Soviética — portanto Moscou — dominava a Ucrânia. O “Glória à Ucrânia”fazia parte de uma série de símbolos ligados à resistência contra os comunistas, e cresceu, inclusive, pela Organização dos Nacionalistas Ucranianos, partido ligado a sentimentos antissemitas e que Óertava com o nazismo da Alemanha de Hitler.
No entanto, há quem considere o slogan somente um apoio normal à Ucrânia, como o “Vive la France” dos franceses. Até o ex-presidente norte-americano Bill Clinton encerrou um discurso em visita ao país europeu com o “Glória à Ucrânia”, em 1995. Na mesma linha, Vida disse, em comunicado, que a saudação “definitivamente não era uma mensagem política”, e foi apenas uma homenagem aos colegas e amigos dos tempos como jogador no Dínamo de Kiev.
Entretanto, muitos russos que até vinham apoiando a seleção da Croácia a despeito da amizade histórica com os sérvios — inimigos políticos dos croatas, passaram a torcer contra. “O incidente com Vida mudou as coisas para muito russos. Ele deveria ter ficado quieto”, comentou Anton Prokudin, um estudante de 21 anos.
A crise gerada pelo vídeo de Vida e Vukojevic piorou a antipatia que os croatas angariaram com outros episódios antes e durante o Mundial. A equipe da Croácia já havia sido punida em 2013, com a suspensão de um jogador que fez saudação nazista em campo.
Dois anos depois, a entidade máxima do futebol na Europa multou a federação do país após uma suástica aparecer em campo durante jogo válido pelas Eliminatórias da Eurocopa.
Mais um caso
Logo após a vitória por 3 a 0 sobre a Argentina, na primeira fase do Mundial, vazou um vídeo dos jogadores croatas no vestiário. Nele, o jogador Dejan Lovren cantava os seguintes versos da música “Bojna Cavoglave”:
Apesar de o verso, por si, só, indicar um grito de guerra, Lovren recebeu críticas porque a música é considerada pró- fascista. Primeiro, porque “Bojna Cavoglave” começa com a saudação “Za dom, spremni!”(“Pela pátria, prontos!”), em uma tradução livre. Esse grito era usado pela Ustache, o grupo nacionalista que tomou o poder na Croácia durante a Segunda Guerra Mundial após a invasão da Alemanha nazista na Iugoslávia. Apoiada por Adolf Hitler, a Ustache liderou repressão severa aos sérvios ortodoxos — os croatas são, na maioria, católicos — entre os anos 1930 e 1940.
Além disso, o grupo manteve o campo de concentração de Jasenovac, onde cerca de 100 mil pessoas, entre judeus, ciganos, muçulmanos e os mesmos sérvios foram exterminados. Segundo, porque a banda Thompson, que lançou “Bojna Cavoglave” durante a Guerra de Independência da Croácia (1991- 1995), já chegou a usar outros cânticos da Ustache em shows pelo mundo. A banda nega ligação ao nazismo.