O senador Romário (Podemos-RJ), em artigo para o jornal Folha de S. Paulo, analisou a situação da corrupção dentro e fora dos campos de futebol, passando pelos Jogos Olímpicos realizados no País. Conforme o parlamentar e ex-jogador, fora da área de jogos, nosso esporte passa por um triste momento. “Quando perdemos uma grande competição, como a Copa do Mundo, é no campo da disputa que isso ocorre. Perder é do jogo. Mas, quando os principais dirigentes perdem a confiança e a dignidade, a ponto de serem presos e afastados de organismos internacionais, a situação se torna vergonhosa para o País”, analisa.
Para Romário, lamentavelmente, vivemos esta realidade. “No lugar dos anunciados ‘legados’ olímpicos, o esporte convive com os “(de)legados” – perdão pelo trocadilho, mas isso é real.”
Há três anos, a Confederação de Vôlei apresentou o primeiro escândalo. “As conquistas em quadra dos nossos atletas escondiam falcatruas, como revelou a imprensa. Recentemente, Coaracy Nunes, então presidente da Confederação de Desportos Aquáticos, foi preso, também acusado de corrupção”, lembrou.
Romário fala sobre a prisão de Carlos Arthur Nuzman, que após ser preso, demitiu-se da presidência do Comitê Olímpico do Brasil. Envolvido em um suspeito esquema de compra de votos para que o Rio se tornasse sede olímpica, também foi suspenso pelo Comitê Olímpico Internacional. “São derrotas tristes para a história do nosso esporte, algo como aquele 7 a 1…”
O senador também lembra que, em 2011, João Havelange renunciou ao cargo de honra que ocupava no COI, para evitar expulsão. Ele foi acusado de ter recebido propinas da empresa de marketing ISL, para facilitar a venda de direitos de TV para a Fifa.
“Agora, uma coincidência une a família olímpica ao futebol: tanto Nuzman quanto José Maria Marin, ex-presidente da CBF, que será julgado em novembro, nos EUA, foram presos por envolvimento em esquemas internacionais”, comenta.
O ex-jogador reflete que por aqui, sobram investigações sobre a corrupção no esporte. “O relatório alternativo que apresentei na CPI do Futebol tem vários indícios nesse sentido. A propósito, cópia desse relatório está no Supremo Tribunal Federal, aguardando parecer do ministro Celso de Mello”, acrescenta.
“No balanço geral, nós nos preparamos muito mal para os megaeventos esportivos. A maioria das instalações olímpicas está abandonada, assim como os ‘elefantes brancos’ que herdamos da Copa”, opina.
Conforme Romário, o estádio Mané Garrincha, em Brasília, construído sob farta corrupção, está sem receber jogos há mais de seis meses.
O parlamentar lembra que outro fato que assusta é a queda de 50% no orçamento do Ministério do Esporte, para 2018. “Que planejamento de governo é este, para um país que está a três anos dos Jogos Olímpicos de Tóquio?”, questiona.
“Esta realidade sugere que o nosso esporte, financiado pela verba pública, precisa de urgente revisão para remodelar, inclusive, a sua já desgastada gestão”, declara.
Romário acrescenta que é preciso decidir se o Estado continuará investindo no alto rendimento ou se dará atenção ao artigo 217 da Constituição, que determina a destinação de recursos públicos ao setor “prioritariamente para o esporte escolar”.
“E vamos torcer, antes, por uma eficiente ação da Justiça para que retire de campo aqueles que assaltaram os cofres públicos, a pretexto de aqui promover megaeventos fantásticos, mas que já nos enchem de vergonha”, reflete.
“Tenho orgulho do esporte que pratiquei e de ter ajudado a conquistar o tetracampeonato mundial de futebol para o meu País”, diz Romário.
“Mas, neste momento, observo com tristeza a realidade da falência na gestão do alto rendimento, que serve, também, para o enriquecimento ilícito de cartolas, entre eles Ricardo Teixeira, José Maria Marin, Marco Polo Del Nero. Afinal, para que e a quem serve o nosso esporte? Continuaremos a aceitar a regra suja do jogo, que envolve muito dinheiro público e explora o desempenho dos nossos atletas?”, conclui.