Sábado, 04 de janeiro de 2025
Por Carlos Alberto Chiarelli | 7 de outubro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Os EUA são, na prática, o país mais forte militarmente e o gestor do maior conjunto de riquezas diversificadas pelo mundo.
Sabe-se que, na hora que lhes era propícia, avançaram em terras cubanas, derrotaram os espanhóis e se apossaram da Flórida; não dá para esquecer a relação com o México e com os mexicanos. Apropriaram-se do Texas e, como dizem os mexicanos insatisfeitos: “Estamos muy lejos de Dios y tan cerca de los Estados Unidos”.
A verdade é que a fronteira permanentemente tensa é onde são contrabandeadas pessoas e se tem, talvez, o maior transporte de drogas ensejando uma crítica dupla aos mexicanos: 1) o fato de terem constituído no país uma espécie de latifúndio, que se diriam modernos e mais poderosos que o próprio governo; e 2) instalações, onde quadrilhas fortes, dirigidas por um “nacho” qualquer, dita regras, como contribuições tributárias privadas, pena de morte, etc. São decorrência do tráfico permanente, o que, por sua vez, é consequência do número crescente de consumidores do lado dos EUA.
No entanto, com todos os percalços, lutaram há vários séculos com os índios sioux e cheyenne, de quem tomaram as terras e, numa aparência de negócio, “compraram” dos indígenas, pagando-lhes com uma moeda nacional sem curso forçado ou que parece uma brincadeira, cedendo a alguns poderosos caciques a titularidade dos grandes cassinos ou pelo menos a sociedade entre ambas as partes (talvez estivessem inventando a privatização).
Aliás, a história de Las Vegas, cujo próprio nome permite que se desconfie da apropriação, fez parte desse jogo de troca desigual. Com isso, ganharam o jogo da força armada somada ao dinheiro. O tempo passou e os ianques – verdadeiros iniciadores do processo de estruturação do estado americano – foram os que acabaram, passados os três séculos, com o ataque na Segunda Grande Guerra às cidades japonesas, que foram destruídas no famoso voo da Enola Gay e o bombardeio atômico sobre Hiroshima e Nagasaki.
Vitoriaram-se os EUA graças a sua estratégia de criação de um país de múltiplas pessoas e personalidades. As portas da imigração estavam abertas e contribuíram para a formação de uma estrutura de valia intelectual usada, inclusive, na batalha científica do armamento. Os EUA ganharam do nazismo e do fascismo, tendo como principais figuras o alemão Oppenheimer e o italiano Fermi. Ambos, um por Hitler e outro por Mussolini, estavam condenados à morte nos seus países. O governo americano importou-os e, com mais um grupo de cérebros perseguidos salvos pela democracia, fabricaram, em tempo hábil, a bomba atômica.
Daí, os EUA, passada a guerra, fizeram um programa de ação que, de certa maneira, era a cobrança que faziam da sociedade internacional por terem sido os decisivos na guerra contra a ditadura. Decidiram, por exemplo, em Bretton Woods, numa reunião internacional econômica, onde os americanos comandaram as decisões políticas, a prevalência da sua moeda (dólar americano) como a única que teria uma confiabilidade assegurada pelas regras econômicas internacionais.
Dando um salto de 45 em diante, nos despedimos do grande presidente Franklin Roosevelt, que dirigiu o país por 4 mandatos apesar de enfermo. Consolidaram-se instrumentalizações da vida política partidária (o país passou a ser bipartidário: os republicanos prevalentemente conservadores da direita e os democratas progressistas da esquerda). Decidiram que os partidos teriam sua representação publicitária utilizando animais: um burro e um elefante. O que lhes permitiu, durante bom tempo nas campanhas eleitorais, confundir os eleitores do partido adversário com o símbolo da sua instituição.
No entanto, a partir do novo milênio, surgiram figuras estranhas na vida política americana. Em especial Trump, um super miliardário que chega a ser, pelos números quase agressivos da sua fortuna, e pelo que tanto se comenta da batalha que fez para obtê-la, um escroque, que teria todo o perfil de quem aspira o poder para colocá-lo a seu serviço e da máfia nacional que o acompanha. Hoje, por exemplo, é ele o primeiro presidente que já teve de comparecer a um inquérito judicial (agora são 4 processos) como depoente para explicar ao poder judiciário a variedade de atos irregulares (nas áreas de economia, defesa e política externa), que pessoal e descuidadamente, imprimiu ao seu governo.
A verdade é que há uma tentação que seduz boa parte da imprensa americana fazendo com que a figura de Trump faça lembrar Al Capone. Isto porque o siciliano só foi preso quando comprovada a série de crimes tributários, por ele e sua gangue, praticados. Mais haveria se mais tempo tivéssemos para oferecer informações sobre Trump. Seu principal opositor, ao que parece, será o democrata Joe Biden, atual presidente de 80 anos, que enseja brincadeiras de mau gosto a Trump (por exemplo, por várias vezes ter tropeçado em escadinhas de aviões precisando de um apoiador permanente perto de si).
Agora que se pretende reafirmar sua candidatura à reeleição, sua história, sem maiores pecados, é manchada por acusações não comprovadas de que não só Biden, mas também seu filho, estão fraudando o Tesouro Americano. De qualquer maneira, a imprensa, por enquanto, ataca Trump e ridiculariza Biden, que é identificado como “mister indeciso” ou “líder-não-se-sabe-de-quê”. Ao fim e ao cabo, aumentando o seu defeito ocular, o que está claro é que nunca será um homem de visão.
PS. Apesar de tudo quanto já se criticou e descumpriu desse que será um pleito de muito baixo padrão, a pesquisa eleitoral feita na última semana deu 51% para Trump e 40% para Biden.
Carlos Alberto Chiarelli foi ministro da Educação e ministro da Integração Internacional.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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