Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 28 de julho de 2018
A polícia do Rio de Janeiro ouviu na sexta-feira (27) mais um depoimento no caso da bancária que morreu depois de um procedimento estético realizado pelo Dr. Bumbum. E enquanto as investigações do caso avançam, o Brasil assiste atônito a uma sucessão de eventos parecidos, alguns com mortes, outros, com mutilações. Em todos eles, demonstrações chocantes de frieza, de irresponsabilidade como a de uma médica que zomba da paciente que teve complicações graves depois de uma lipoescultura.
A cada novo depoimento, declarações chocantes. “Eu comi uma sopa no dia anterior que continha tomate e agrião. Estava saindo muita secreção e essa secreção, onde estava saindo, saiu o agrião e o tomate”. A mensagem de áudio foi enviada por uma paciente para a doutora Geysa Leal Corrêa. A mulher fez uma lipoescultura com a médica.
A paciente pediu ajuda e a doutora respondeu assim: “Amore, eu acho que você devia comer para ver se é verdade, para ver se é tomate ou se é cenoura que isso aí para mim é gordura, tá? Me desculpe, mas não fala besteira que, quanto mais besteira você pensar, pior você vai ficar estressada e me estressar à toa. Comida? Impossível sair comida. Se eu tivesse perfurado alguma coisa, você já tinha morrido”.
A paciente insistiu e procurou a médica. “Ela olhou, fez outra drenagem e me mandou pra casa de novo. E eu pedi pra ela me encaminhar pra uma emergência, pra alguma coisa. Ela não me encaminhou nem foi comigo no hospital. Eu saí de lá e fui direto pra emergência”, contou a paciente.
Ela está até hoje internada em um hospital federal, na Zona Oeste do Rio. Teve o intestino perfurado e precisou passar por uma cirurgia. Na quinta-feira (26), Geysa Leal Corrêa prestou depoimento por um outro caso, que acabou em morte. Na chegada à delegacia, foi cercada por mulheres que se diziam pacientes e amigas dela.
Geysa está sendo investigada por causa da morte da professora Adriana Ferreira, de 41 anos, seis dias depois de fazer uma lipoescultura. A doutora Geysa já respondia a três processos cíveis por erro médico em procedimentos estéticos.
“Ela não é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, mas ela tem a capacidade de praticar qualquer ato médico inclusive inerentes à cirurgia plástica”, disse o advogado Lymark Kamaroff.
Não é o que afirma a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. “Cirurgia plástica é para ser realizada com cirurgião plástico”, afirma André Maranhão, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Em duas semanas, pelo menos quatro inquéritos foram abertos no Rio de Janeiro para investigar procedimentos estéticos feitos por diferentes profissionais.
A morte da bancária Lilian Calixto, depois de fazer um preenchimento com o médico Denis Furtado, serviu para que a polícia do Rio desvendasse uma série de atendimentos ilegais e perigosos.
Na tarde de sexta-feira (27), a polícia ouviu uma mulher que também estava no elevador do prédio onde o Dr. Bumbum atendia as pacientes. Lilian Calixto é amparada momentos antes de chegar ao hospital.
Noeli Assis contou à polícia que é corretora de imóveis e que estava na cobertura do médico, onde também faria um procedimento estético. Ela disse que viu quando Lilian teve a queda de pressão.
“Pensei que logo ela estaria se recompondo, mas ela continuou com a pressão baixa”, contou.
Mais cedo, em outra delegacia, investigadores ouviram duas vítimas da massoterapeuta Patrícia Silva dos Santos, a Paty Bumbum.
A suspeita é que os preenchimentos tenham sido feitos com silicone industrial, o que é crime contra a saúde pública.
Uma das clientes contou que, depois do procedimento, teve uma trombose no joelho e que a substância se espalhou pelas pernas. Ela ficou mais de um mês no hospital e hoje depende de remédios.
“Fazendo um tratamento com corticoide, antibiótico, fiquei com pressão alta, fiquei com ansiedade. Acabou com a minha vida. É muito sofrimento, que arrependimento”.