Sábado, 28 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 13 de dezembro de 2018
Uma mulher em tratamento de câncer nos seios está entre as vítimas do médium João de Deus que prestaram depoimento nesta terça-feira no Ministério Público. Segundo o relato, o abuso ocorreu no dia 11 de abril passado, quando a vítima foi atendida por João de Deus, em Abadiânia.
O advogado Marcos Pagliaro, que representa a vítima, disse que ela já frequentava a casa espiritual desde 2012, para ajudar outras pessoas, quando soube, em 2017, que ela própria estava doente, com câncer. Foi então que a “entidade” disse que ela deveria “procurar o médium João de Deus”, que atende numa salinha do centro de cura os casos mais graves.
A mulher relatou à promotora Gabriela Mansur que já havia ido cerca de 20 vezes à casa espírita, mas nunca esteve a sós antes com João de Deus. Na data combinada, ela entrou na sala de tratamento e o médium mandou que virasse de costa e, aos poucos, passou a apalpar os seios, as costas e as nádegas da vítima. A mulher imediatamente reagiu e disse que achava estranho e não queria que ele continuasse.
Segundo o advogado, João de Deus tentou convencê-la dizendo que esse era o tratamento e que ela teria de fazer se quisesse sair de lá curada.
A mulher protestou e ele a empurrou contra a parede, esfregando seu pênis contra as nádegas dela.
Ela reagiu e pediu para sair da sala, que fica trancada pelo lado de fora.
“Quando ele viu que não adiantava, tentou intimidá-la gritando ‘Você não quer se curar! Você quer que a doença volte! Vá, vá embora'”, contou o advogado.
Pagliaro disse que, ao sair da sala, sua cliente comentou o ocorrido com uma amiga que também frequentava o local.
“A amiga disse que já tinha ouvido de outras mulheres e que, então, era verdade o que diziam.”
O advogado disse que a vítima contou o ocorrido ao marido e juntos os dois o procuraram. Porém, como não havia provas, ele orientou a não apresentar queixa naquele momento.
“Era preciso que mais mulheres de denunciassem, o que agora aconteceu.”
Pagliaro disse que, diante de centenas de denúncias, é estranho que a prisão de João de Deus não tenha sido pedida até agora.
“Esse homem é um monstro. Aproveita a fragilidade das mulheres para abusar delas em nome de uma suposta cura. Como minha cliente foi reticente, ele não foi mais longe”, disse o advogado.
O Ministério Público de São Paulo criou um grupo de apoio às vítimas para acompanhar a tramitação do inquérito e vai encaminhar os depoimentos colhidos na terça-feira para o MP de Goiás, responsável pela Investigação.
A força-tarefa do MP goiano havia recebido, só até a terça, 206 atendimentos a mulheres que se apresentam como vítimas de João de Deus. Duas delas residentes no exterior — uma nos Estados Unidos e outra na Suíça. O MP ainda não definiu como serão coletados os depoimentos das vítimas que residem no exterior.
Todas mulheres que entram em contato com a força-tarefa estão sendo orientadas a procurarem o Ministério Público de seu Estado, que ficará responsável pela coleta de depoimentos. Em seguida, essas provas serão enviadas para força-tarefa do MPGO, que conta com cinco promotores de Justiça e duas psicólogas.