Segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 18 de novembro de 2017
A nova leva de denúncias de assédio sexual que começou em Hollywood chegou de vez a Washington, atingindo os dois principais partidos: os alvos são um senador democrata e um candidato a senador republicano. As acusações geraram reações diversas do presidente Donald Trump, que criticou o opositor, mas silenciou sobre seu partidário republicano, politizando o debate. A forte reação da sociedade americana também difere dos casos mais antigos, o que pode sinalizar, segundo especialistas, uma mudança de comportamento sobre o tema. As informações são do jornal O Globo
Muitos esperam o fim da tolerância a agressores, com impactos diretos até na campanha presidencial de 2020. Na esteira das denúncias que afetaram nomes famosos do entretenimento como Kevin Spacey, Harvey Weinstein, Oliver Stone, Ben Affleck e Steven Seagal, o tema chegou à política.
“Todas as histórias e incidentes falam de papéis tradicionais para os homens na política e refletem a tradicional dominação masculina. Talvez o tema seja uma grande questão agora porque mais mulheres estão em posições de liderança e são poderosas para lutar contra algo que não poderiam anos atrás”, afirmou ao Globo David Schultz, professor de Ciência Política da Hamline University.
Representante dos ultraconservadores, o candidato republicano ao Senado pelo Alabama, Roy Moore, foi acusado de assediar nove mulheres, incluindo duas menores. O ex-juiz – que abandonou a magistratura por se negar a retirar uma homenagem à Bíblia em sua corte – nega as acusações e disse que se trata de uma “caça às bruxas”, recusando-se a sair da disputa eleitoral.
Do lado democrata, o senador Al Franken foi acusado por uma apresentadora de rádio de ter sido tocada por ele e forçada a um beijo numa viagem ao exterior em 2006, dois anos antes de ser eleito. Uma foto divulgada por Leeann Tweeden mostra o congressista colocando as mãos sobre os seus seios enquanto ela dorme, vestindo colete e capacete militares. O político disse não se lembrar do beijo forçado, mas pediu desculpas pela foto. Eleitores, porém, pedem investigação sobre o caso – já aberto na Comissão de Ética do Senado – e até sua renúncia.
Trump silenciou sobre Moore, e a Casa Branca afirmou, por meio da porta-voz Sarah Sanders, que “os eleitores do Alabama” decidirão sobre o caso do candidato. Mas ele usou o Twitter para criticar o democrata, a quem chamou de “Frankestein”, acusando-o de hipocrisia – por dar palestras contra assédio e a favor do respeito às mulheres há apenas uma semana.
“A imagem de Al Frankenstein é realmente ruim, fala por mil palavras. Onde suas mãos estão nas fotos 2, 3, 4, 5 e 6 enquanto dorme?”, tuitou o presidente.
Imediatamente, muitos democratas afirmam que Trump está se esquecendo de seu próprio passado: na reta final da campanha de 2016, um vídeo de 2005 mostrou quando ele se gabava de beijar mulheres sem permissão. No total, 11 mulheres acusaram o então candidato de assédio. Trump rebatia dizendo que as acusações eram falsas, que suas declarações eram “conversa de vestiário” e que Bill Clinton, ex-presidente e marido da então candidata Hillary Clinton, tinha feito coisas piores.
“Neste momento, precisamos parar de classificar estas acusações numa escala de ‘ruim’ para ‘realmente, realmente, muito ruim’”, escreveu em artigo a ativista feminista Lily Herman. “Eu não me importo de qual partido seja o predador sexual, apenas quero que ele vá embora.”
E para além da questão partidária, o debate pode estar mudando a forma como os americanos veem os abusos. Para Schultz, é possível que o país esteja à beira de uma grande mudança cultural e política.
“A questão agora é se as mulheres podem alavancar essas histórias de assédio sexual e usá-las como um ponto de foco político para desafiar as atitudes, a opinião e o comportamento do público”, disse.
A deputada democrata Jackie Speier lembrou que foram gastos US$ 15 milhões (R$ 50 milhões) em acordos contra assédio em uma década na Câmara dos Representantes, em ações que tratam de casos sexuais e também de discriminação racial, religiosa e contra pessoas com deficiências.
“Estamos em um momento decisivo”, afirmou a deputada Nancy Pelosi, da Califórnia, líder democrata, pedindo ao Congresso que reveja seu processo interno para lidar com o assédio sexual.
Os casos – incluindo as recentes acusações de assédio contra o ex-presidente George Bush pai e uma série de casos no Reino Unido – mudaram até a percepção do passado. A senadora democrata Kirsten Gillibrand disse em entrevista na TV que Bill Clinton deveria ter renunciado após o escândalo com a estagiária Monica Lewinsky. “Sim, acho que essa seria a resposta apropriada”, afirmou, após ser questionada.