Dizer que o nosso pai foi uma pessoa especial é algo que figura em um espaço comum de fala para muitos. Mas, no momento da separação, ainda que física, representada pela hora de despedida da vida, assumo o direito de abraçar a singularidade ao tentar descrever um sentimento intenso representado pela perda, mas também pela gratidão, e através do qual busco homenagear uma das pessoas mais especiais que conheci.
Rubilar Arrosi, nascido em 16 de março de 1947, gaúcho natural de Espumoso, serviu no Exército brasileiro, tendo sido 3º sargento paraquedista na década de 60 e 70. Apaixonado por esportes, graduou-se em Educação Física na própria Escola da Força Militar. Viveu anos de glória no Rio de Janeiro, no bairro da Urca. Trabalhou como assistente técnico do time do Santos e teve a oportunidade de conhecer e estar ao lado de celebridades do esporte, inclusive o Rei Pelé.
Fez pós-graduação em voleibol e, após sair da vida militar, tornou-se professor de Educação Física, sendo uma figura especial e memorável para cada um de seus alunos. Dono de uma personalidade ímpar, excêntrico, e sempre imbuído por um humor sagaz e uma objetividade cirúrgica, fez muitos amigos durante toda a sua vida.
Teve duas esposas, mães maravilhosas, cujos frutos foram seus filhos Álvaro Joffre Souza Arrosi, eu, Letícia Soster Arrosi e Márcio Luiz Soster Arrosi, seus maiores tesouros, como fazia questão de dizer, e dos quais se orgulhava. Extremamente inteligente e com talento para escrita, decidiu estudar Direito, tornando-se advogado. No exercício da profissão, trabalhou com afinco no ramo do Direito Administrativo e foi um dos advogados que, junto com os seus sócios, mais contestou ações de desapropriação contra o Estado do Rio Grande do Sul, defendendo clientes pela perda de suas terras, dentre outras causas no ramo do Direito Civil.
Nunca esmoreceu frente às adversidades da vida, tendo vencido honradamente batalhas judiciais, mas também lutando contra problemas graves de saúde. Quase sempre, levado pelo bom humor, sem dizer qualquer palavra que indicasse fraqueza ou desconforto. Em décadas, as poucas lágrimas que vi nos olhos do meu pai foram quando estava em posição de sentido cantando o hino nacional e quando percebeu a sua finitude.
Graças a ele cresci rodeada pelos livros do Direito, tendo a minha formação e a minha profissão. Meu pai sempre me apoiou e vibrou comigo a cada conquista, em cada lugar que estive. Manteve-se ao meu lado em cada questão difícil e compartilhou minhas alegrias, e a dos meus irmãos, com tanta felicidade que às vezes parecia não caber naquele grande coração. Foi corajoso, advogado e pai até o último momento. Agora, no instante em que nos despedimos, posso dizer, com profundo pesar e tristeza, mas com toda certeza, que o amor de uma filha pelo seu pai, para mim, é incondicional.
Muito obrigada, pai, por tudo.
(Letícia Soster Arrosi, Doutora em Direito Comercial com ênfase em Propriedade Intelectual pela USP, mestre em Direito Privado com ênfase em contratos e especialista em processo civil pela UFRGS e, sobretudo, filha do saudoso e amado Rubilar Arrosi)