Domingo, 19 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de fevereiro de 2023
Desde novembro do ano passado, uma vacina contra a Covid desenvolvida inteiramente no Brasil está em testes em humanos. É a SpiN-Tec, imunizante criado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e que, se demonstrada a eficácia, pode se tornar mais uma importante arma na luta contra a doença em cerca de dois anos.
Mas o ineditismo não é apenas para o combate ao coronavírus. Se receber o aval da Anvisa, a vacina também será a primeira desenvolvida 100% em solo brasileiro, abrindo uma nova porta na autonomia do país em garantir os seus próprios imunizantes – sem depender de transferência de tecnologia externa ou de importação.
Isso porque, embora lugares como a Fiocruz e o Instituto Butantan sejam referência na produção de vacinas, quando o assunto é a criação de uma formulação do zero, a história é outra. Para avançar nesse setor, em dezembro, começaram as obras do futuro Centro Nacional de Vacinas (CNVacinas), expansão do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG (CTVacinas) que promete transpor essa barreira.
De acordo com o coordenador do CTVacinas, professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG e pesquisador da Fiocruz, Ricardo Gazzinelli, já foram cumpridas todas as etapas dos estudos pré-clínicos, da concepção da vacina, que vão desde a formulação até os testes em animais da imunogenicidade, que é a capacidade de a vacina induzir uma resposta imunológica, e de segurança. Também foram realizados todos os testes de controle de qualidade da formulação.
Essas etapas, desenvolvidas ao longo de dois anos, passaram por uma análise rigorosa da Anvisa, que aprovou o início dos testes clínicos em humanos, em três etapas.
O pesquisador explicou que a fase 1 foi iniciada no final de novembro e foram utilizadas três doses diferentes para verificar a segurança do imunizante em pessoas e a imunogenicidade nos diversos esquemas. A expectativa é que essa etapa termine até o fim de fevereiro. Com isso, será estabelecida a melhor dosagem e solicitada a aprovação da Anvisa para avançar para a fase 2.
“Com cerca de 300 voluntários, essa futura etapa, que deve começar até junho e durar até setembro, vai comparar a resposta imune da nova vacina com a de outra vacina já aprovada, no nosso caso com a da AstraZeneca. A nova tem que ser pelo menos igual na capacidade de induzir o sistema imunológico. Se tudo der certo, vamos para a última fase, a 3. Ainda estamos em discussão sobre quanto tempo ela deve demorar, mas a expectativa otimista é de que termine até o meio de 2024. Tendo a linha de produção certa, em 2025 podemos estar distribuindo a vacina nacional”, explicou Gazzinelli.
Diferencial
O professor da UFMG afirmou que todas as vacinas que existem no mercado hoje utilizam uma proteína do coronavírus como alvo, a S, para induzir a resposta imune. A vacina brasileira, no entanto, incluiu uma outra proteína, do núcleo do vírus, chamada N.
“Esse é o nosso diferencial, nós combinamos essas duas proteínas em uma só, em uma molécula que demos o nome de SpiN”.
Além disso, o imunizante tem uma estabilidade muito grande. Ao contrário de outras que precisam de temperaturas baixíssimas, ele consegue ficar até nove meses na geladeira, e uma semana em temperatura ambiente.