Com um livro lançado em 2006, o Prêmio Nobel e ex-vice-presidente americano Al Gore, alertava o mundo para os perigos do aquecimento global. De lá para cá, os riscos ambientais aumentaram, porém ainda não conseguiram catalisar uma agenda realmente global para atacar as principais causas das mudanças climáticas que ameaçam o planeta.
Pelos esforços de Al Gore, seria esperada uma maior consciência dos EUA na pauta ambiental. Entretanto, o tema não vem recebendo do governo americano, a importância merecida, incluindo o presidente Donald Trump, que tem se mostrado cético em relação aos efeitos da ação do homem na natureza e seus reflexos no clima.
O encontro deste ano da elite financeira mundial em Davos, na Suíça, abraçando a causa verde como pauta central, denota a enorme importância do tema sustentabilidade. Se os donos do dinheiro estão pautando o clima como foco, restam poucas dúvidas de que o assunto é sério. Sério e obviamente com reflexos diretos no comércio internacional e na economia como um todo.
Motivos para preocupação realmente não faltam. Os efeitos dos desequilíbrios do clima se fazem sentir com cada vez mais intensidade nos quatro cantos do planeta, tendo, nos devastadores incêndios que estão atingindo a Austrália, talvez seu exemplo mais dramático e atual.
O tema sustentabilidade suscita muitas paixões, porém é a ciência que deve ter a última palavra. Contra evidências irrefutáveis de que a poluição e o desmatamento sem controle aprofundam o impacto sobre o clima, emergem argumentos pseudocientíficos ou atrelados a interesses econômicos por vezes inconfessáveis. Não é à toa que o consagrado historiador israelense Yuval Harari coloca a necessidade de haver cooperação e colaboração internacional na questão climática como um dos três maiores desafios da humanidade para o século XXI.
O Brasil, dentro do contexto global do clima, é um ator proeminente. Deveria, a rigor, assumir um natural protagonismo no assunto. Não é isso, porém, o que acontece. Estamos presos a problemas de condução interna do tema, adotando um discurso enviesado e dúbio, particularmente quanto à situação da Amazônia, onde os ataques às ONGs têm sido mais ideológicos do que práticos. A solução para a Amazônia passa longe das paixões e ufanismos contraproducentes e tem muito mais a ver com pesquisa séria e ações concretas para a preservação da floresta do que bravatas inconsequentes. Trata-se, a meu ver, de um esforço amplo, com a colaboração de vários atores, incluindo o governo, a iniciativa privada, ONGs, centros de pesquisa e a sociedade de modo geral.
Temos que usar inteligentemente nossa posição competitiva na questão ambiental, na qual o bioma Amazônia é, sem dúvida, um grande ativo a ser preservado e explorado de modo sustentável. A criação de uma força ambiental da Amazônia é uma boa iniciativa e talvez signifique uma guinada na estratégia do Governo na condução desse tema tão delicado. Agora, é aguardar quais medidas serão implementadas para resgatar a imagem do país no exterior, restabelecendo o papel que o Brasil sempre teve como protetor de um patrimônio fundamental para o futuro da própria humanidade. Não há como fugirmos dessa responsabilidade e que deve ser conduzida com inteligência, sensibilidade e visão sistêmica.