Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 3 de novembro de 2022
O comissário europeu de mercado interno disse que os governos e companhias da região precisam perceber que a China é uma rival da UE (União Europeia) e que eles não deveriam ser ingênuos na hora de aprovar investimentos chineses. Os comentários do comissário Thierry Breton pareceram ter como alvo em parte a Alemanha, cujo primeiro-ministro, Olaf Scholz, visitará Pequim nesta sexta-feira.
Nos últimos anos, a UE aprovou uma série de medidas elaboradas para controlar melhor os investimentos de empreendimentos estatais estrangeiros, inclusive da China, para assegurar que potências rivais não obtenham vantagem política sobre o bloco.
Mas muitos diplomatas ficaram perplexos com a decisão recente da Alemanha de aprovar a venda de uma participação no porto de Hamburgo, o maior do país, para uma companhia chinesa.
Em uma entrevista à Reuters, Breton disse que “preferiu” a decisão da Alemanha permitir a venda de 25% do terminal para a Cosco da China, do que a proposta original, que teria vendido à China mais de um terço e lhe proporcionado uma participação minoritária com poder de veto. “Precisamos ser extremamente vigilantes”, disse ele.
Breton disse que desde que a UE classificou a China de “um rival sistêmico” em 2019, o bloco adotou uma série de medidas que podem ser usadas para bloquear investimentos em infraestruturas críticas. “Cabe aos Estados membros usá-las”, disse Breton.
A visita de Scholz a Pequim será a primeira de um líder da UE desde o início da pandemia de covid-19. Ele enfrenta críticas antes da viagem por permitir à Cosco investir em Hamburgo, apesar a forte reação de seus parceiros na coalizão de governo, em meio a preocupações com a influência chinesa sobre infraestruturas importantes.
Fontes dos governos francês e alemão disseram à Reuters que o presidente da França, Emmanuel Macron sugeriu a Scholz que eles fossem juntos a Pequim para enviar um sinal da unidade da UE para o governo chinês e conter o que veem como tentativas da China de colocar um país contra o outro.
Mas o premiê alemão recusou a oferta de Macron, segundo fontes. Perguntado sobre a viagem de Scholz, Breton disse que os países da UE deveriam adotar uma abordagem coletiva. “É muito importante que o comportamento dos Estados membros em relação à China… mude de uma maneira que ele seja mais coordenado do que individual, como a China obviamente quer que sejamos”, disse.
A abordagem mais defensiva da UE é resultado da atitude de Pequim durante a pandemia, em que as autoridades chinesas exploraram a dependência dos países dos equipamentos produzidos na China, como máscaras de proteção, para obter uma vantagem diplomática, disse o comissário da UE.
“Não podemos esquecer tudo isso. A era da ingenuidade acabou. O mercado europeu está aberto, mas com condições”, afirmou ele.
Breton também alertou as empresas europeias tentadas a aumentar seus investimentos na China, de que estarão fazendo isso por sua conta e risco em um país que se tornou mais “autocrático”.
“Há incertezas para as empresas que fazem essa aposta. Há uma vantagem muito importante em ser baseado na Europa, com o estado de direito, a proteção às empresas e a visibilidade”, disse ele. As informações são da agência de notícias Reuters.