Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Tito Guarniere | 2 de outubro de 2021
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O advogado Ricardo de Oliveira tem uma teoria sobre as relações dos bolsonaristas com a imprensa. Eles combatem tenazmente a imprensa tradicional, a grande mídia, para os fins de lavagem cerebral – se você cala a tevê, as emissoras de rádio, os jornais, o que sobra são as narrativas deles nas redes sociais.
Tais narrativas, sendo as únicas válidas, vão se estabelecendo como em “1984”, a obra distópica de Orwell, ganhando corações e mentes, e excluindo tudo o mais que não se ajuste ao universo por eles imaginado.
Assim, se a mídia afirma a importância da máscara, ou da vacina, para enfrentar a covid, então é porque a verdade está no seu avesso – não há provas que a máscara ou a vacina possuam qualquer efeito positivo, e talvez até causem prejuízos à saúde humana.
De onde decorrem comportamentos como o do empresário Luciano Hang. A mãe dele, D. Regina, contraiu o vírus e ele imediatamente a internou no Hospital Prevent Senior, SP, o qual era abertamente favorável ao “tratamento precoce”. No Prevent, a mãe experimentou de tudo – hidroxicloroquina, ivermectina, colchicina, azitromicina e (segundo consta) até ozonioterapia. De nada adiantou, a pobre senhora morreu. Diante dos eventos recentes revelados pela CPI, entretanto, o empresário Hang, reafirmou sua confiança total nos métodos da Prevent. Nem a morte da mãe o fez duvidar.
O próprio Hang teve covid e ele se saiu bem do acometimento. Ele atribuiu ao uso anterior de cloroquina e ivermectina.
Não há, a estas alturas, quem desconheça que uma boa parte dos contagiados só sente sintomas leves da doença. Outra parte da população que é imune. E sempre esteve claro que a vacina não é garantia de imunidade total contra o contágio, senão para reduzir os danos – menos internações, menos mortes.
Mesmo entre os vacinados, infelizmente, uma parte não resiste e morre. A cada vacinado que é infectado ou morre, o bolsonarismo faz um escarcéu, como foi no caso de Tarcísio Meira.
O ministro Queiroga, que alguns chamam de Quedroga, atingido pela doença, culpou a Coronavac, por ineficaz. Ele recebeu duas doses da vacina. Queiroga ignorou olimpicamente, e desonestamente, que os sintomas leves que apresentou são evidências claras de que a vacina cumpriu a sua função. A “narrativa” precisa ficar de pé a qualquer custo. Os bolsonaristas vacinados contra a covid, quando contaminados, só faltam dizer que a doença foi contraída por causa da vacina.
Esse comportamento – de negar evidências, de forçar raciocínios, de enquadrar cada episódio nas quatro linhas do seu pensamento primitivo – no caso das vacinas, se estende a todos os temas do imaginário bolsonarista, como o perigo do socialismo, a vulnerabilidade do voto eletrônico, a falsidade das pesquisas eleitorais, a concepção de que o STF é um inimigo a combater.
Vão criando assim, os bolsonaristas, um universo paralelo, do qual o discurso de Bolsonaro na ONU foi o exemplo mais emblemático. Assim, eles recusam todos os fatos e todas as conjeturas que lhes atrapalhem as crenças, desejos, vontades. É um fenômeno de esquizofrenia coletiva. Uma doença, lamentavelmente, de difícil cura.
titoguarniere@outlook.com
Twitter: @TitoGuarnieree
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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