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Urnas, Queimadas e Escolhas

Esse ano completa 130 anos que elegemos o primeiro Presidente da República, que teve como vencedor Prudente de Moraes. Naquele pleito concorreram 205 candidatos, sendo que 116 tiveram 1 voto apenas. Aliás, Machado de Assis, na época, escreveu uma crônica dizendo que a existência de tantos lanterninhas anônimos votantes que usaram a urna para singelamente homenagear os amigos.

Ainda olhando o calendário, via retrovisor mais recente, lembro que no ano passado foi instituído em 05 de outubro o Dia de Luta pela Democracia Brasileira. Essa data foi escolhida por ser o dia da promulgação da Constituição Federal de 1988, um marco histórico da democracia em nosso país. Minha formação como cidadão e ativista das bandeiras dos trabalhadores e do regime democrático, um dos pilares do movimento sindical brasileiro, sei o quanto ele não apenas forma cidadãos, mas também eleva o padrão de vida da população. Mas, não podemos dar a democracia por garantida. As ameaças têm ressurgido. No Brasil temos testemunhado nos últimos anos um apoio preocupante a ideias antidemocráticas.

Vou usar um exemplo, entre tantos possíveis, e tem relação com a segunda palavra do título desse artigo: queimadas. De acordo com pesquisas, meio ambiente não é o assunto mais lembrado por eleitores na hora de escolher seus prefeitos e vereadores. Deveria ser.

Segundo um levantamento feito pela BBC News Brasil mostra que ao menos 2,8 mil políticos que disputam cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador nas eleições deste ano já foram autuados por infrações ambientais ao menos uma vez. No Rio Grande do Sul, que em 2024 enfrentou a maior tragédia climática de sua história, ao menos 103 candidatos foram multados pelo Ibama, com infrações que incluem destruição de vegetação nativa em área preservada e pesca ilegal.

Nacionalmente, como sabemos, nesse ano as queimadas viraram notícia mundial. O Brasil teve 11 milhões de hectares queimados entre janeiro e agosto deste ano e foram 116% maiores do que as registradas no ano passado (fonte Ipam). Essa tragédia tem vários fatores. Pergunto: um deles terá correlação com democracia? Lembro de uma fala do ex-ministro do Meio Ambiente do governo anterior, Ricardo Salles, que disse numa reunião ministerial em 2020 durante a pandemia, quando defendeu: “Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”.

Dito isso, no próximo domingo mais de 155 milhões de eleitores vão às urnas escolher prefeitos e vice-prefeitos de 5.569 cidades brasileiras, além de 58,4 mil vereadores.

A reflexão, e decisão, necessária é que não devemos dar combustível para candidatos que abastecem a sociedade com chamas de fogo, ódio e rancor.

Nosso país tem tantos problemas e desafios que o quê não precisamos é empoderar, através do voto, àqueles que com ódio e rancor tentaram e tentam destruir a democracia.

(Gelson Santana, presidente do Sticc e Secretário Nacional do Setor da Construção Civil UGT Brasil)

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