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Ali Klemt “Utilidade doméstica”

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(Foto: Podcast PodDelas/Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

De ícone de beleza a ícone de polêmica, Luana Piovani retornou ao circuito como uma ex-esposa repleta de opiniões controversas e sempre pronta para causar. Goste ou não dela, quem aborda assuntos reais acaba “botando o dedo na ferida” – e nos fazendo refletir e questionar.

Em recente entrevista, Luana (de óculos escuros após realizar uma blefaroplastia) se manifestou sobre a vida pós-divórcio e foi enfática: nunca mais quer casar. Para justificar a sua opinião, explicou que não precisa ter alguém deixando rastros de bagunça pela casa e dividindo a sua toalha de banho. Falou, enfim, do que é praticamente um clássico nas reclamações conjugais – tenho certeza que muitas, muitas mulheres se identificaram.

A repercussão suscitou um debate: por que, afinal, os homens são incapazes de assumir como sua também a responsabilidade do lar? Será que é algo do qual se eximem diante da coexistência de uma mulher para administrá-lo, ou será que teriam a mesma incapacidade se se vissem sozinhos administrando uma casa?

Eu não tenho dúvidas de que capazes eles são. Tanto é assim que, em países onde a igualdade de gênero é algo que sequer precisa ser postulado, homens limpam a casa, cozinham, fazem compras e tudo mais, afinal, que envolve a gestão da rotina. A questão não é biológica, por óbvio: é cultural, e o Brasil é um país com profundas raízes latinas e educação católica, uma mistura que é um prato cheio para criar homens que precisam ser cuidados por mulheres. A imagem da “mamma” italiana que alimenta a todos os filhos e os protege como pintos sob suas asas norteia nosso imaginário e está arraigado em nosso DNA de imigrante. A cultura católica que, por séculos, também impediu o protagonismo feminino em qualquer área que não a da “santa mãe” viabilizou aos homens os papeis principais da historia e nos relegou a mera ajudantes domésticas.

Porém, se é cultural, pode mudar. E o só fato de, hoje, questionarmos tais aspectos da vida a dois mostra o quão desgostosas estamos com a lógica da divisão de tarefas: simplesmente não é justa, e ainda impera a falsa ideia de que homens bacanas ajudam dentro de casa. Não, homens não têm que “ajudar”: homens precisam entender que são tão responsáveis pela manutenção da ordem e da limpeza doméstica quanto qualquer outra pessoa com quem divida o teto – não é ajuda, é responsabilidade.

O problema é que enquanto nós, mulheres, continuarmos replicando a mesma atitude perante nossos filhos, continuaremos formando homens que não se sentem responsáveis pelas atribuições do lar ou mulheres que acham que a elas cabem todas as incumbências, como se assim fosse. E aí reside um enorme, gigante problema: nós, mulheres brasileiras, temos essa ânsia de se fazer necessária enquanto mãe, de servir como se essa fosse a maior prova de amor, de cuidar do ninho porque isso ressalta a nossa competência enquanto mulher. Logo, é natural que formemos novos homens “mal acostumados” e novas mulheres “cientes da importância de cuidar do lar”, em um ciclo sem fim.

Fica, portanto, a reflexão para todas nossas e para a Luana: o quão consciente você vem sendo como mãe para impedir que os mesmos padrões que te incomodam se repitam? E, mais, o quanto, efetivamente, você impõe ao mundo que não se trata, apenas, de um incômodo pontual quanto ao seu ex-marido?

No fundo, acredito que nós, mulheres, temos uma tendência ancestral de gerenciar o ninho – o que é uma das características mais lindas do feminino. O problema, senhores, é o excesso de atribuições. Precisamos de ajuda, urgentemente. Caberá a cada casal avaliar a melhor forma de distribuir as tarefas. E caberá a cada pai e mãe dar o exemplo de que um casal, afinal, é formado por duas pessoas, cada uma à frente de um aspecto, mas unidas em seus propósitos. Não há regras, mas é preciso que haja, sobretudo, respeito.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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