Segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 28 de agosto de 2024
É falso que a vacina AstraZeneca tenha varíola dos macacos. Na verdade, o imunizante contém um adenovírus recombinante de chimpanzé, um vírus sem relação com o que causa a mpox. Essa informação foi confirmada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e dois especialistas consultados pelo Comprova.
O adenovírus usado na vacina serve apenas para carregar o material genético do coronavírus. É assim que a injeção causa uma resposta imunológica na pessoa vacinada, de acordo com Anvisa e Fiocruz.
O vírus contido na vacina foi modificado para não se replicar no nosso corpo – ou seja, ele não é capaz de causar doenças. Mesmo se fosse, o vírus é da família Adenoviridae, diferente do que causa a mpox, que é da família Poxviridae.
O conteúdo investigado foi publicado no Telegram e no X, destacando a bula da AstraZeneca e relaciona o item “adenovírus de chimpanzé”, que aparece na composição da vacina, com a varíola dos macacos.
Conclusão do Comprova: falso. Para o Comprova, o conteúdo foi inventado ou sofreu edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Telegram, a publicação teve mais de 5 mil visualizações até o dia 26 de agosto de 2024. Já no X, na mesma data, o conteúdo alcançava a marca de 19,2 mil visualizações, 808 curtidas e 326 compartilhamentos.
Foram consultados a Anvisa e o Ministério da Saúde, instituições que trabalham com o imunizante, além de Fiocruz, AstraZeneca, o professor Aguinaldo Roberto Pinto, do departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e o médico infectologista Keny Colares, consultor da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP).
Vírus diferentes
Ouvido pelo Comprova, Aguinaldo Roberto Pinto, professor do departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC, destacou que o adenovírus e a mpox são dois vírus distintos, portanto, não há a possibilidade do imunizante causar a varíola dos macacos.
Ele explicou que a AstraZeneca é, de fato, feita a partir de um adenovírus que foi isolado de chimpanzés, mas que teve seu genoma modificado em laboratório de modo que não tenha capacidade de se multiplicar em seres humanos, conferindo assim segurança a este tipo de imunizante.
O professor acrescentou que as vacinas, de modo geral, são produzidas a partir de microrganismos mortos, microorganismos atenuados, RNA mensageiro e tipos de adenovírus que são incapazes de se replicar.
Equívoco
Apesar de ser popularmente conhecida como “varíola dos macacos”, a transmissão da mpox não está relacionada a esses animais. De acordo com o Ministério da Saúde, o nome vem da descoberta inicial do vírus em macacos em um laboratório da Dinamarca, em 1958.
O Ministério da Saúde destaca que, embora o animal reservatório do vírus – no qual vive e se multiplica o agente causador da mpox – seja desconhecido, os principais associados são roedores, como os esquilos das florestas tropicais da África, principalmente da África Ocidental. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também aponta ratos como animais suscetíveis a este tipo de varíola. No entanto, as “transmissões do surto atual, que atingiram mais de 75 países, foram atribuídas à contaminação de pessoa para pessoa, com contato próximo”, cita o órgão.
O médico infectologista e consultor da ESP Keny Colares disse que até o termo monkeypox é inadequado. “Ficou como se fosse um vírus de macacos, mas, na verdade, é uma doença humana”, afirmou.
“Esse vírus foi descoberto pela primeira vez em pessoas que tinham contato com macacos e achava-se que a doença era desse animal. Na verdade, ele é muito mais um vírus que causa doença humana e que, eventualmente, deu em algum macaco e, na época que esse vírus foi descoberto, ganhou esse nome de monkeypox e agora é difícil de voltar atrás”, contextualizou.
Segundo a Anvisa, a vacina AstraZeneca, registrada junto ao órgão em março de 2021, teve seu registro válido por três anos, até março de 2024. Quando este registro chegou ao fim, não houve pedido de renovação por parte da empresa e, por isso, a autorização para o uso em território nacional foi cancelada. Ou seja, o imunizante não é mais aplicado no Brasil. A agência explicou que foi uma decisão apenas comercial, a eficácia e a segurança da vacina não mudaram.