Sábado, 18 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 18 de janeiro de 2025
A vacina Qdenga, contra a dengue, está novamente em falta na rede privada no Brasil devido a limitações de produção e logística do laboratório Takeda, que detém a patente do imunizante. A escassez, que já foi registrada no ano passado, acontece durante o verão, época em que historicamente há aumento de casos de dengue. O vaivém na disponibilidade do imunizante em clínicas e farmácias privadas ocorre, segundo o laboratório, devido à prioridade do fornecimento ao SUS.
De acordo com o Ministério da Saúde, o País teve cerca de 6,6 milhões de casos prováveis de dengue e ao menos 6.068 mortes devido à doença em 2024.
A Qdenga foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2023 para aplicação em pacientes de quatro a 60 anos de idade, e está disponível na rede pública de saúde para quem tem entre 10 e 14 anos. Esta faixa etária registra o maior número de hospitalização pela doença. A Takeda, fabricante do imunizante, se comprometeu a fornecer 9 milhões de doses ao Ministério da Saúde neste ano, mas não revela quantas doses disponibiliza à rede privada brasileira.
Em clínicas particulares, a aplicação de Qdenga era oferecida a preços a partir de R$ 350 por dose. O esquema vacinal completo demanda duas doses com intervalo de 90 dias entre elas.
A Takeda, multinacional japonesa que desenvolveu e fabrica o imunizante, confirmou em nota a escassez do imunizante na rede privada no Brasil. Em nota, diz que “o número de doses disponibilizadas ao setor privado permanece limitado devido à prioridade dada ao atendimento do SUS” e que mantém um estoque de segurança para atender à demanda da população que não é elegível a tomar a vacina na rede pública. A empresa diz “priorizar a segunda dose para quem já iniciou a imunização na rede particular”.
O grupo Dasa, dono das redes como Alta, Lavoisier, Delboni, Salomão Zoppi, Exame e Atalaia, afirmou que tem “estoque para vacina da dengue com prioridade de garantia da 2ª dose dentro do período de retorno (90 dias) em diversas praças”. Em Brasília e São Paulo, no entanto, não havia imunizantes disponíveis nas últimas duas semanas, de acordo com atendentes de laboratórios da rede.
O Dasa orienta pacientes a consultar canais de atendimento e disponibilidade da vacina por meio da plataforma NAV Dasa.
A RD Saúde, dona das redes Raia e Drogasil, confirmou que não tem estoque para a primeira dose. Em nota, diz que “não há previsão (de regularização dos estoques) porque é uma questão do laboratório (Takeda)”. A rede disse em nota, porém, que suas farmácias “têm estoque para garantir a segunda dose de quem já tomou a primeira”.
O Grupo Fleury, do qual também fazem parte as redes A+ e Hermes Pardini, também enfrenta escassez do imunizante. “A vacina da dengue está sendo oferecida prioritariamente em sua rede para garantir a segunda dose para os clientes. Trata-se de um cenário dinâmico, e a disponibilidade pode variar de unidade para unidade de atendimento, conforme comportamento da demanda e capacidade de reposição do fornecedor”, disse a companhia em nota.
Nas redes Pacheco e Drogaria São Paulo, que pertencem ao DPSP, há falta da primeira dose do imunizante, mas quem quer tomar a segunda dose tem a compra garantida, de acordo com a companhia.
“O Grupo DPSP possui em estoque unidades de vacinas da dengue suficientes para aplicação da segunda dose aos clientes que tomaram a primeira aplicação na rede. Filiais que solicitam reforço de segunda dose para atender demandas locais são reabastecidas em até três dias”, disse em nota ao GLOBO.
Expansão
De acordo com profissionais da saúde, o gargalo no fornecimento da Qdenga ocorre devido a limitações na capacidade produtiva da Takeda. Hoje, a Qdenga é produzida na fábrica da IDT Biologika GmbH na Alemanha e é vendida em 28 países, incluindo o Brasil. De acordo com a Takeda, é aqui que a empresa disponibiliza o maior número de doses. A empresa não revela, porém, o número de doses disponíveis nem sua capacidade produtiva atual.
Em nota, a Takeda diz que pretende chegar aos 100 milhões de doses de Qdenga produzidas por ano até 2030. Para isso, pretende inaugurar neste ano um novo centro global dedicado à produção de vacinas, em Singen, na Alemanha). “Ao mesmo tempo, a empresa está comprometida com os esforços para estabelecer novas parcerias para acelerar a capacidade de produção da vacina no Brasil e no mundo”, diz o documento.
“A gestão das doses disponíveis no sistema privado é de responsabilidade das clínicas e farmácias, enquanto a Takeda está empenhada em viabilizar o fornecimento necessário para completar o esquema vacinal daqueles que já receberam a primeira dose”, afirma a nota.
Em outubro de 2024, a Takeda divulgou ao mercado que as vendas de Qdenga nos seis meses anteriores foram de 19,9 bilhões de ienes (R$ 777,1 milhões no câmbio atual), um crescimento de 927,6% anualizados. Na ocasião, a receita com a Qdenga representou 52,2% da receita total do grupo na área de vacinas no período.