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Vacina francesa da dengue não deverá ser indicada para menores de 9 anos

(Foto: Reprodução)

Os resultados de uma nova análise, que reúne estudos realizados na América Latina e Ásia, mostrou que a vacina da multinacional francesa Sanofi não deve ser indicada para crianças com menos de 9 anos.

A vacina francesa é a que está mais próxima do lançamento – outras alternativas, da japonesa Takeda e da parceria entre os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, Instituto Butantan e Hospital das Clínicas da USP, ainda não concluíram os estudos em larga escala.

O novo estudo acompanhou 35 mil crianças e adolescentes por 25 meses e concluiu que a idade é um fator importante para a eficácia da vacina: quanto mais nova é a pessoa, pior ela responde.

Na prática, o estudo da empresa representa uma recomendação para as agências reguladoras – Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), no caso do Brasil – de que a vacina deveria ser aprovada para um público a partir dos 9 anos de idade.

Para as crianças que ficam fora desse público-alvo, outras formulações e dosagens devem ser estudadas, de acordo com a diretora-médica da Sanofi Pasteur (divisão de vacinas da Sanofi) Sheila Homsani. A vacina é administrada em três doses.

A vantagem de um estudo combinado, com o que foi feito, é a robustez obtida ao combinar duas amostras e chegar a números mais precisos e confiáveis, aponta Rosana Richtmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas, que não participou do estudo.

Nessa nova análise, a eficácia da vacina – chance de a pessoa estar realmente protegida contra a doença – foi de 66%, sendo particularmente efetiva em quem já teve dengue (82%) e menos efetiva em quem nunca teve (52%).

No estudo feito na América Latina e divulgado ano passado, a proteção para quem nunca tinha tido dengue era de 43% e a proteção global era de 61%.

O pesquisador Edson Moreira, da Fundação Oswaldo Cruz na Bahia, diz que a vacina da dengue é um “caso complexo”, já que envolve tanto a dificuldade de se promover uma resposta imunológica das pessoas quanto que essa resposta funcione para os quatro subtipos do vírus.

A vacina da Sanofi é mais eficaz para os tipos 3 e 4 e menos para os tipos 1 e 2. Para o tipo 2, o mais complicado, a eficácia da vacina é de 47% em quem tem mais de 9 anos e de 34% em quem tem menos.

O estudo foi publicado na segunda-feira (27) na revista especializada “New England Journal of Medicine”.

HOSPITALIZAÇÃO

O imunologista da Universidade de Melbourne Cameron Simmons escreveu um editorial para a revista em que elogia a condução dos estudos e destaca o número de hospitalizações em crianças menores de 9 anos.

No estudo asiático, a chance de uma criança entre os 2 e 5 anos vacinada ser hospitalizada era 7,4 vezes maior que a de uma criança do grupo-controle.

Uma explicação estatística para essa elevação é que ela seria apenas uma decorrência do acaso. Outra, biológica, seria a de que que o sistema imunológico das crianças não seria maduro o suficiente para lidar com a vacina, afirma Sheila Homsani.

Outra explicação é que os anticorpos produzidos pelo organismo das crianças estariam “jogando contra”, favorecendo reações indesejadas – os casos observados não foram particularmente graves, entretanto.

Até o começo deste mês (dados mais recentes disponíveis), haviam sido registrados 530 óbitos por dengue em 2015 no Brasil, 57% a mais do que o mesmo período de 2014.

Uma vacina, mesmo sem grande eficácia, na opinião de Rosana Richtmann e Edson Moreira, pode ajudar a amenizar esse cenário. (Gabriel Alves/Folhapress)

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