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Por Redação O Sul | 3 de fevereiro de 2019
A tragédia que deixou até agora 121 mortos e 226 desaparecidos em Brumadinho, Minas Gerais, não resultará apenas em perdas bilionárias para a Vale. Deixou também sequelas na imagem de uma das empresas mais importantes do País. Pela segunda vez em pouco mais de três anos, a mineradora está no centro de um grave incidente. No fim de 2015, o rompimento da barragem de Fundão, da sua controlada Samarco, deixou 19 mortos em Mariana, em Minas Gerais.
No mercado financeiro, os estragos estão sendo contabilizados. A companhia perdeu R$ 51 bilhões em valor de mercado desde 25 de janeiro, data do acidente, até a sexta-feira (1º), segundo a Economatica. As principais agências de classificação de risco já pioraram a sua avaliação sobre a empresa: a Fitch rebaixou a nota de crédito da companhia, enquanto a Moody’s e a Standard & Poor’s colocaram o rating em observação negativa.
O impacto do acidente para a reputação da Vale, no entanto, ainda não foi totalmente mensurado. Na terça-feira (29), manifestantes foram até a sede da empresa no Rio de Janeiro para protestar contra o ocorrido. Indício de que o caminho para uma eventual recuperação será longo. Os analistas indicam basicamente dois rumos para a Vale seguir. Primeiro, será preciso adotar ações corretivas, ou seja, dar o tratamento adequado para as vítimas, além de buscar medidas que minimizem o impacto ambiental. Segundo, estipular e cumprir as ações para prevenir futuros acidentes.
“E dentro dessas duas ações a companhia tem de ter uma transparência muito grande na hora de comunicar as informações, como as companhias aéreas costumam fazer em casos de acidentes”, diz coordenador do Centro de Estudos em Negócios do Insper, David Kallás.
Depois do rompimento da barragem, a Vale anunciou algumas medidas para tentar mitigar o impacto da crise na sua imagem. A companhia suspendeu o pagamento de dividendos e juros sobre o capital próprio (remuneração aos acionistas) e de remuneração variável (bônus) aos executivos da empresa e disse que vai eliminar barragens iguais às de Mariana e Brumadinho – são 10, segundo a empresa. Também se comprometeu a indenizar as famílias das vítimas.
“Uma eventual melhora vai depender de essas ações se concretizarem”, afirma Roseli Moreira Porto, professora da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas, a Eaesp/FGV. “A empresa tem de trabalhar a reputação. Se ela for sólida, a recuperação é mais rápida porque já há uma base boa.”
Reestruturação
O golpe na imagem da Vale acontece pouco mais de um ano depois de a mineradora concluir uma reestruturação encampada pelo presidente da companhia, Fabio Schvartsman, para enquadrá-la no Novo Mercado, segmento da B3 que exige o maior nível de governança, e atrair mais investidores. À época, o executivo, que assumiu em maio de 2017 com o lema “Mariana nunca mais”, disse que o movimento sinalizava a entrada da mineradora em uma era de pagamento de grandes dividendos.
Na mudança, a Vale deixou de ter um bloco de controle e passou a ter capital pulverizado, o que foi considerado um marco na história da empresa, um afastamento do controle estatal e compromisso com a transparência.
Mesmo após acidente em Mariana – a companhia ainda é alvo de ações na Justiça – , a mineradora não deixou de pagar seus acionistas. Em 2016, a empresa distribuiu R$ 1,8 bilhão em dividendos na forma de juros sobre capital próprio.