Há prejuízos de aprendizagem, concentração, foco, alertados por relatórios recentes da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Também graves consequências à saúde mental, com aumento do vício, ansiedade, depressão, automutilação e suicídios, evidenciados em dezenas de estudos.
Mas a discussão não se limita a tempo de tela, existe ainda a exposição a conteúdos claramente inapropriados como pornografia, assédio sexual, comunidades radicais e violências.
Muitas dessas constatações – com as recomendações de como agir e em qual idade específica permitir o uso, por causa do desenvolvimento cerebral – foram organizadas no best-seller A Geração Ansiosa, do psicólogo americano Jonathan Haidt. O livro será lançado no Brasil em julho (Companhia das Letras), mas já virou sensação mundial.
Lá fora, no entanto, essa preocupação toda tem reverberado em regulamentações. Muitos países europeus e Estados americanos passaram leis que proíbem o celular em escolas, o ambiente crucial para aprendizagem e interação social que claramente já sofre impactos com as novas tecnologias.
A União Europeia também aprovou códigos de design apropriado para crianças em redes sociais. Nova York discute uma lei que impede que as plataformas usem algoritmos em conteúdos infantis.
No Brasil, as poucas iniciativas focam ainda apenas no ambiente escolar. A rede de ensino municipal do Rio proibiu os celulares, São Paulo tem um projeto de lei, da deputada Marina Helou (Rede), sendo discutido na Assembleia.
Mas o chamado PL das Fake News, que incluía também responsabilização das plataformas em conteúdos para crianças e mais ferramentas de controle parental, foi abandonado no Congresso Nacional por falta de consenso e pressão das empresas de tecnologia.
Movimentos de famílias são louváveis, mas difícil deixar somente nas mãos de pais e mães essa luta que é uma das maiores da vida contemporânea. Ainda mais em um País tão desigual, com realidades sociais e habilidades diversas para lidar com a tecnologia e com a educação dos filhos.
A mobilização precisa ser um motor para que o Estado brasileiro garanta, por meio de políticas públicas, que as empresas de tecnologia e toda a sociedade parem de se eximir de cuidar das crianças e jovens.