Quinta-feira, 24 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 17 de agosto de 2021
Quase três meses depois de os primeiros casos da variante Delta terem sido identificados no Brasil (tripulantes de um navio que chegou ao Maranhão), persiste o temor (e a dúvida) sobre qual será o impacto da versão mais transmissível do Sars-Cov-2 na pandemia no País.
A variante predominante segue sendo a Gama (P.1). Não há dúvidas sobre o avanço da Delta no Brasil, mas especialistas apontam que esse dados ainda precisam ser analisados com cautela. Apesar do número de casos estar subindo, ainda não há um surto da variante, como ocorreu em outros países.
“O que temos é a transmissão interna da Delta, está tendo a expansão do número de casos, mas a predominância ainda é da variante gama”, explica Ricardo Khouri, pesquisador da Fiocruz e professor de imunologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Ele lembra que, enquanto a preocupação com a Delta cresce, a Gama está mutando e isso deve ser visto como um alerta. “É importante manter a vigilância [com a delta], mas não significa que a delta já se expandiu e tem uma predominância no nosso país.”
Dados da Rede Genômica da Fiocruz apontam que, entre os sequenciamentos de amostras feitas pelo sistema no País, a Delta corresponde a 22,1% dos casos sequenciados em julho (mais do que 1 em cada 5 casos). Em junho, o total era de 2,3%. Entretanto, o total de sequenciamentos é desigual no Brasil. Enquanto, por exemplo, São Paulo fez mais de 10 mil, o Piauí analisou apenas 19.
“A grande maioria das amostras sequenciadas da variante Delta foi no Sudeste e pode haver viés de amostragem devido a busca ativa de casos suspeitos de infecção pela Delta”, explica o pesquisador.
O pesquisador da Fiocruz explica que estamos tendo a sensação de alta prevalência da delta por causa do foco do sequenciamento no Brasil. “O sequenciamento está todo voltando para essa variante. Daí é como se a gente tivesse um grande surto de delta nesse momento já, mas ainda não está acontecendo. O que temos é a transmissão interna, está tendo a expansão do número de casos, mas a predominância ainda é da variante Gama”, alerta Khouri.
A Delta encontra uma concorrente muito forte no Brasil — a Gama (P.1). Por isso, ainda não é possível afirmar que ela ser a variante dominante no País.
“Quando a P.1 [Gama] surgiu, a P.2 [variante encontrada no Rio de Janeiro] já estava disseminando amplamente pelo País. A P.1, em pouco mais de três meses, foi capaz de sobrepor completamente a P.2 e ocupar o território nacional, apagando praticamente todo o sinal da P.2. No mesmo período que a gama começou a se distribuir pelo País, entrou a alfa. As duas tinham forças muito similares e a alfa não foi para lugar nenhum”, diz Khouri.
Para ele, é preciso levar em consideração alguns contextos do País antes de dar o protagonismo para a Delta:
— O Brasil teve uma transmissão da covid-19 muito maior do que na Inglaterra, por exemplo. Isso reduz, de certa forma, o número de pessoas vulneráveis que pode ser infectada.
— O cenário no Brasil é de alta transmissibilidade da Gama, com evolução dessa variante com outras mutações.
— A Delta chega ao Brasil em um momento que mais de 50% da população já está vacinada com pelo menos uma dose.