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Por Redação O Sul | 24 de setembro de 2023
Variantes do vírus da raiva foram encontradas em morcegos no Ceará por pesquisadores da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp). De acordo com informações da Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de SP), o vírus é semelhante à presente em saguis-de-tufo-branco (Callithrix jacchus).
O resultado da pesquisa acende um alerta para a circulação do vírus, que é mortal para humanos. Os saguis geralmente são encontrados em áreas selvagens e urbanas no Brasil, chegando a serem capturados e mantidos como animais de estimação. Os resultados foram publicados na revista científica Journal of Medical Virology.
Outra descoberta que intrigou os pesquisadores foi a presença do vírus da raiva em espécies frutívoras e insetívoras dos mamíferos voadores.
Na pesquisa, foram analisadas 144 amostras de tecidos retirados dos cérebros de morcegos pertencentes a 15 espécies. O RNA foi extraído das amostras para análise dos vírus encontrados. Depois, as sequências genéticas da raiva foram comparadas com outras depositadas em bancos de dados públicos, informa a Fapesp.
O resultado mostrou que o primeiro conjunto de sequências era compatível com variantes encontradas em duas espécies de morcego do Sudeste em 2010, enquanto outro grupo tem relação evolutiva parecida com o vírus da raiva detectado em saguis-de-tufo-branco do Nordeste do Brasil.
Os bichos se tornaram a principal fonte de transmissão de raiva humana nas Américas após a intensificação da vacinação dos animais domésticos. Em 1991, o Ceará registrou o primeiro caso de morte por raiva associada a um sagui. Depois, outras 14 mortes foram registradas no estado.
Casos de raiva humana
Dados do Ministério da Saúde apontam que o Brasil registrou cinco casos confirmados de raiva humana em 2022. Neste ano, até agora, foram dois registros. A preocupação com a doença ganhou força após um cão testar positivo para o vírus em São Paulo, na semana passada. Foi a primeira infecção desse tipo registrada na região desde 1997.
De acordo com os dados solicitados pelo Correio ao ministério, nenhum dos pacientes que desenvolveu a doença conseguiu sobreviver. No entanto, de acordo com a pasta, o país está próximo de erradicar a doença entre a população em razão da campanha de vacinação que ocorre nos estados e municípios.
Dos cinco casos confirmados no ano passado, quatro foram notificados em uma comunidade indígena no município de Bertópolis (MG), sendo dois casos de jovens entre 10 e 15 anos de idade e dois em crianças menores de 10 anos. Também foi registrado um caso no Distrito Federal, de um adolescente, morador de Sobradinho.
As infecções apresentam curva de crescimento. Em 2021, foi registrado apenas um caso, e no ano seguinte, dois. No entanto, os números ainda estão longe dos índices das décadas anteriores. Em 1990, foram contabilizados 50 casos. No mundo, até os dias atuais, foram 70 mil infecções, em que apenas cinco pessoas sobreviveram, entre elas, dois brasileiros que, até hoje, sofrem com graves sequelas de saúde.
De acordo com o Ministério da Saúde, a taxa de mortalidade de raiva humana no ano passado foi de 0,00246/100 mil habitantes. Nenhum caso de raiva humana foi registrado em pessoas que fizeram uso de soro e vacina em tempo adequado e oportuno. O Brasil registra cerca de 650 mil atendimentos antirrábicos ao ano.
O governo recomenda que pessoas que tiveram algum tipo de exposição procurem atendimento médico com urgência. “É muito importante orientar a população, a qualquer contato com cão ou gato, morcegos ou mamíferos silvestres (cachorro do mato, saguis etc), para que procure imediatamente o posto de saúde para avaliação quanto à necessidade de imunoprofilaxia adequada e oportuna”, destaca o texto da pasta.
Caso procure atendimento no tempo adequado, é possível impedir o desenvolvimento da doença. A vacina aplicada em cães e gatos protege por mais de um ano, mas a orientação é fazer a imunização anualmente. No caso dos seres humanos, a imunização ocorre para profissionais que atuam em contato com animais, como veterinários, e pessoas que podem ter sido expostas.